Vasco

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sábado, 20 de março de 2021

O VENENO DO ESCORPIÃO - LEOPOLDINA, A MÃE DA INDEPENDÊNCIA DOs BRASILEIROS

Durante as comemorações pelo Grito do Ipiranga - atingirá 200 viradas de calendário no 7 de setembro de 2022 - a figura honrada é, sempre, a de Dom Pedro I. Ele merece, pois, aos 23 de idade, foi muito macho para enfrentar uma corte europeia que desejava voltar o Brasil à condição de colônia muda, presa aos ditames de Lisboa. Esquece-se da princesa Leopoldina, a austríaca esposa do Príncipe Regente que tornou o seu coração brasileiro e passou a viver por este país.

 A situação brasileira, em 1821, era insuportável. As cortes portuguesas já haviam obrigado o Rei Dom João Sexto a voltar pra casa e o mantinham  prisioneiro de luxo, em palácio. A próxima vítima seria o Pedro que, em dezembro de 1821, até pensava atender Portugal, mas, em janeiro de 1822, a pedido do povo brasileiro - províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais - mandou um tremendo “Fico” por aqui nos ouvidos lusitanos. Desaforo que não ficaria sem resposta do comando militar lusitano no Rio de Janeiro, prometendo prender e enviar para julgamento, em Lisboa, de todos os ousados.

Dois dias depois, tropas portuguesas bagunçaram a cidade, perseguindo o povo e destruindo tudo o encontrado pela frente. Dom Pedro, apoiado por mais de 10 mil pessoas, botou a "portuguesada" pra correr do Rio de Janeiro, empurrando-a para Niterói. Depois, embarcou em uma fragata e deu-lhe um dia pra se mandar do Brasil, ou seria bombardeada, pois ele tinha o domínio do arsenal de pólvora carioca. E a “portugada” deu no pé, permitindo-lhe montar  ministério à revelia do dominador. E ordenou que nenhuma ordem fosse cumprida sem o seu aval.


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           Sem ela, o Brasil teria demorado mais para se libertar e Portugal  

Quem diria! Tempinho antes aquele Pedro fugia da ideia de independência “brazuca”, por temer que as cortes portuguesas tirariam-lhe o direito de herança ao tronoo luso. É por aqui que entra a austríaca Leopoldina. Ela temia o mesmo, mas tinha visão política mais longa do que a de Pedro – era filha do imperador Francisco II, homem capaz de enrolar Napoleão Bonaparte, o então maior conquistador da Europa, casando-o com uma sua filha. Vendo que Portugal já estava perdido para eles e que o Brasil, no futuro, poderia ser muito mais importante do que a metrópole, Leopoldina, de conversa com José Bonifácio, intuiu que cumprir ordens lisboetas seria encaminhar o Brasil para fragmentação em dezenas de republiquetas, como ocorrera com o domínio sul-americano espanhol. Ela estava mais para o Brasil do que Dom Pedro, em 1822. Defendia até o uso a força bruta para o “Dia do Fico” chegar, o que significa que ela “Ficou” primeiro do que o Príncipe Regente.

 Chega o agosto. Navio português aporta no Rio de Janeiro trazendo notícias (oficialmente, só chegadas em 21 de setembro), por deputados brasileiros, sobre a negativa ao pedido “brazuca” de não voltarmos ao status de colônia, esquecer a ordem de regresso de Dom Pedro I e de prisão de todos os membros do seu governo provisório, para julgamento em Lisboa. 

Portugal, no entanto, anulou a criação, pelo Pedro,  do Conselho de Procuradores e de todas as suas decisões. Além disso, informou-se que estaria enviando mais de sete mil soldados para fazer valer o seu mando e que já teria colocado dois navios de guerra, com 600 homens, na Bahia, para dali atacar as províncias que o apoiavam, por ser visto pelas por “mancebo ambicioso, rapazinho alucinado, merecedor de prisão, para aprender a ser constitucional”.

 Naquele agosto,  Dom Pedro viajara para apagar fogo e fumaça de fuxicos políticos em São Paulo. No 13, nomeou sua mulher Leopoldina regente do Brasil, em sua ausência, mas com tudo o que o seu Conselho de estado decidisse passasse pelo seu crivo. Leopoldina atuou com liderança (sangue) de um arquiduquesa da velha Áustria, despachando com os ministros. Inclusive, foi ato dessa sua interinidade a contratação do lorde mercenário escocês Thomas Cochrane -  herói britânico e que havia ajudado a libertar o Chile do jugo espanhol - para chefiar a marinha brasileira na guerra pela independência que estaria por vir.

 Dm Pedro, que viajara no 14 de agosto e, até o dia 22, não dava notícias. Nesse tempo, Leopoldina deu demonstrações públicas que levaram o povo brasileiro a tê-la por aliada e que, futuramente, comprovar-se-ia ter sido ela uma das responsáveis por o Brasil não ter voltado a ser colônia,  o que, se ocorresse, mataria, sobretudo, a vida econômica brasileira.

O Brasil estava um vulcão. No 2 de setembro, Leopoldina convocou o Conselho de Estado, com a participação, também, de procuradores-gerais de província, para debater as alarmantes notícias que chegavam de Portugal. Muito provavelmente, admitem historiadores, ela e Dm Pedro já haviam conversado sobre tomarem a liderança do clima de separação do Brasil de Portugal. E, também, que ela não o escreveria propondo a imediata proclamação da independência brasileira sem a mínima segurança de que o Príncipe Regente a apoiaria. Os dois só não se entendiam sentimentalmente, pois o Pedro era um fanfarrão sexual fora de casa. No meio daquele rolo, o conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva a encorajara a escrever a carta ao príncipe e, depois, teria dito, após ler a missiva: “Ela (Leopoldina) deveria ser ele (Pedro)”. 

Entre outros argumentos, dizia Leopoldina na carta a Dom Pedro I: “O Brasil será em vossas mãos um grande país... Cm o vosso apoio, ou sem... ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece... Tereis o apoio inteiro e, contra a vontade do povo brasileiro, os solados portugueses que aqui estão nada podem fazer” E assina (Leopoldina) – uma outra carta fora enviada por José Bonifácio, afirmando que “o momento não comporta mais delongas ou condescendências” e que “Portugal não tem recursos par subjugar um levante...”

Veio, então, o sábado 7 de setembro de 1822, quando Dom Pedro I recebeu correspondências envidas pelo seu Conselho de Estado, por Leopoldina e José Bonifácio. Ficou injuriado pelas ameaças portuguesas, rasgou tudo e jogou ao chão. E, às margens do riacho Ipiranga, montou em uma mula e teria gritado: “Independência ou morte!”


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A imperatriz Leopoldina escreveu a Dom Pedro I afirmando que o Brasil seria grande comandado por ele e que era a hora de agir


Na verdade, não foi bem assim, segundo o padre Belchior Pinheiro, que recolheu a apelada atirada ao mato e ouviu o Pedro dizer: “Laços fora soldados. Viva a independência, a liberdade e a separação do Brasil. Pelo meu sangue, pela minha honra, juro fazer a liberdade do Brasil”. Textos sugeridos por Leopoldina e José Bonifácio, pois o Pedro não tinha a cultura literária para aquilo. Ainda, segundo o padre Melchior, só  depois que todos os ovintes o apoiaram, o Pedro desembainhou da sua espada, ficou em pé nos estribos da sua mula e bradou o brega “Independência ou Morte”, linguagem povão. E celebrou o ato bebendo uma taça de cachaça  – coisas de quando Domitila de Castro Canto e Melo, futura Marquesa de Santos, já estava ali na esquina para infernizar com a vida da Imperatriz Maria Leopoldina, que a teve por camareira, entrando em seu quartos – que humilhação!    

 Maria Carolina Josefa Leopoldina Fernanda Francisca de Habsburgo-Lorena viveu entre 22 de janeiro de 1797 a 11 de dezembro de 1826. O seu “prêmio” por ter ajudado na independência do Brasil foi viver humilhada pelo marido que, nem mesmo a sua mesada lhe entregava, o que fez-lhe endividar-se muito para atender necessitados do Rio de Janeiro. Jamais pode pagar as dívidas, que foram pagas pelo governo do Império, quando ela já não mais existia. Mas Dom Pedro I pagaria pela sua ingratidão. Foi embora do Brasil apedrejado, xingado e vaiado pelo povo que  governou, de 12 de outubro de 1822 a 7 de abril de 1831, data de sua abdicação ao trono do Brasil.  

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