Quando garoto, ele foi lobinho,
sonhando ser escoteiro. Nos acampamentos, tinha medo de bicho e só se acalmava
depois que acendiam uma fogueira pra manter as feras distantes. Passada a fase
bobinha da infância, para entrar no circo, saía às ruas de Campinas, com a
banda circense, carregando a pauta musical do flautista. Mais adiante,
experimentou o aprendizado de marcenaria, no Instituto São Bento, ainda em sua
terra. Mas o seu futuro mesmo estava marcado para acontecer com mais destaque
como goleiro.
É por aqui que começa a história de Moacyr Barbosa, que estaria apagando 100 velinhas neste 27 de março de 1921, caso estivesse por este planeta. Filho de Emydio Barbosa e de Isaura Barbosa, ele teve por irmã Adeliza Barbosa. Nasceu na paulista Campinas e foi um gato com a camisa cruzmaltina. Nos tempos de peladas de meio de rua, era ponta-direita, em São Paulo, tentando ser tão bom quanto os irmãos Mário e Armando, cobrões na posição. Mas aconteceu com ele aquele famoso dia imprevisto. O seu cunhado José Santiago avisou-lhe: “Hoje, você vai jogar de goleiro”. Barbosa espantou-se, pois vinha sendo um ponteiro veloz e perigoso. Não teve, porém, como fazer o cunhado mudar a escalação do time do Almirante Tamandaré. “O nosso goleiro não apareceu. O jeito é você ir pro gol”, explicou o homem e encerrou o papo. Barbosa ficou amuado, vociferou contra a família inteira do marido de sua irmã, mas não adiantou. Teve de se virar e encarar o ataque do Esporte Clube Estrela, pelo campeonato da Liga Comercial paulistana – trabalhava no ramo. Jogo terminado, Barbosa saiu de campo como uma das feras da pugna, com ótima atuação. E deu uma de malandro com o seu treinador: “Jogar de goleiro tem as suas vantagens, cunhado: pode-se pegar a bola com as mãos e não é precisar correr”. Melhor se não tivesse tentado tripudiar, pois o cunhado nãio o perdoou:”Ah, é? Então, daqui por diante, a camisa 1 será só sua”. Barbosa já
contava 18 de idade, em 1939, quando trocou a ponta-direita pelo cargo
de “gol-keeper”, como se falava. Juntamente com a troca de
posição mudou, também, de nome. Deixou de ser Moacyr e ficou tricampeão
da liga (1939/40/41) como Barbosa. De graça trocada, foi
convocado para a seleção paulista de amadores, ficou bicampeão
brasileiro-1941/1942 e recebeu convite do treinador do Ipiranga,
Caetano Domenico, para tentar o futebol profissional. Por Cr$ 5 mil cruzeiros, de
luvas (antigo sistema de levar uma graninha, por fora, nas
assinaturas de contrato) e Cr$ 800 mil cruzeiros mensais, estava bom, pra
começar. Barbosa estreou pelo Ipiranga, em 1943, fazendo um grande Campeonato Paulista. Tão bom que, na temporada seguinte, o Vasco da Gama bateu à sua porta, oferecendo-lhe Cr$ 60 mil cruzeiros de luvas e salário inicial de Cr$ 1 mil. Não dava pra ele Ipiranga dizerem não. Reserva do goleirão palmeirense Oberdan Catani, nas seleções paulista de 1941 e de 1942, Barbosa partiu para São Januário, indicado por Domingos das Guia, par disputar posição com Oncinha, Roberto, Barqueta e Martinho, o que pirou, em 1945, com mais duas concorrências, de Castro e de Rodrigues. De inicio, Barbosa não teve vida fácil. Ganhou vez, em 11 de
novembro de 1945, em Vasco da Gama 4 x 0 Madureira, em São
Januário. No jogo seguinte, porém, devolveria a posição para
Rodrigues. Quando nada, a sua estréia vascaína havia marcado a conquista do
título carioca, com uma rodada de antecipação. E o que valia era o que ficara
escrito no caderninho: Barbosa; Augusto e Rafagnelli;
Alfredo II, Ely e Berascochea; Santo Cristo, Ademir, Isaías, Jair e Chico, o
time que o treinador uruguaio Ondino Vieira escalara diante do Madura,
para ficar na história das glórias da Colina. Campeão carioca com apenas uma partida disputada, Barbosa saiu para
outras. Ajudou o Vasco a ganhar a última edição do Torneio Relâmpago-1946 –
entre os grandes cariocas – e os Torneios
Municipal-1946/1947, reunindo só times da cidade do Rio de Janeiro. Mais?
Voltou a usar faixas de campeão estadual, em 1947/49/50/52. Também, papou o
maior título da história cruzmaltina, em 1948: campeão dos campeões
sul-americanos de clubes, o primeiro do futebol brasileiro no exterior. Em 1955,
Barbosa decidiu encerrar a sua história cruzmaltina. Mas voltou a São
Januário, em 1958, pra ser campeão dos Torneios Início e Rio-São Paulo, e do
sensacional SuperSuperCampeonatoCarioca. Tudo em cima, para um super-goleiro. Por ser este texto homenageadeiro, não se fala do insucesso de Barbosa
no gol que tirou da Seleção Brasileira, diante do Uruguai, o título da Copa
do Mundo-1950. Principalmente, porque muitos entendidos técnico absolveram a
sua leitura do lance em que Ghiggia não deveria ter chutado para o gol. O
capitão brasileiro, Augusto da Costa, por exemplo,
considerou mais culpado de4 falhar no lance o zagueiro flamenguista
Juvenal, que não dera, segundo ele, cobertura ao lateral-esquerdo Bigode, um
outro rubro-negro. A ilustração aqui de Barbosa é de autoria de Fritz e foi publicada à página 14 do Nº 100 da Manchete Esportiva, que circulou com data de 19 de outubro de 1957. |
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