Vasco

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sábado, 27 de março de 2021

O CENTENIAL GOLEIRÃO MOACYR BARBOSA

Quando garoto, ele foi lobinho, sonhando ser escoteiro. Nos acampamentos, tinha medo de bicho e só se acalmava depois que acendiam uma fogueira pra manter as feras distantes. Passada a fase bobinha da infância, para entrar no circo, saía às ruas de Campinas, com a banda circense, carregando a pauta musical do flautista. Mais adiante, experimentou o aprendizado de marcenaria, no Instituto São Bento, ainda em sua terra. Mas o seu futuro mesmo estava marcado para acontecer com mais destaque como goleiro.

 É por aqui que começa a história de Moacyr Barbosa, que estaria apagando 100 velinhas neste  27 de março de 1921, caso estivesse por este planeta. Filho de Emydio Barbosa e de Isaura Barbosa, ele teve por irmã Adeliza Barbosa. Nasceu na paulista Campinas e foi um gato com a camisa cruzmaltina.

Nos tempos de peladas de meio de rua, era ponta-direita, em São Paulo, tentando ser tão bom quanto os irmãos Mário e Armando, cobrões na posição. Mas aconteceu com ele aquele famoso dia imprevisto. O seu cunhado  José Santiago avisou-lhe: “Hoje, você vai jogar de goleiro”.  Barbosa espantou-se, pois vinha sendo um ponteiro veloz e perigoso. Não teve, porém,  como fazer o cunhado mudar a escalação do time do Almirante Tamandaré. “O nosso goleiro não apareceu. O jeito é você ir pro gol”,  explicou o homem e encerrou o papo.

  Barbosa ficou amuado, vociferou contra a família inteira do marido de sua irmã, mas não adiantou. Teve de se virar e encarar o ataque do Esporte Clube Estrela, pelo campeonato da Liga Comercial paulistana –  trabalhava no ramo. Jogo terminado, Barbosa saiu de  campo como uma das feras da pugna, com ótima atuação.  E deu uma de malandro com o seu  treinador: “Jogar de goleiro tem as suas  vantagens, cunhado: pode-se pegar a bola com as mãos e não é precisar correr”. Melhor se não tivesse tentado tripudiar, pois o cunhado nãio o perdoou:”Ah, é? Então, daqui por diante, a camisa 1 será só sua”.

Barbosa já contava 18 de idade, em 1939, quando trocou a ponta-direita pelo cargo de “gol-keeper”, como se falava. Juntamente com a troca de posição mudou, também, de nome. Deixou de ser  Moacyr e ficou tricampeão da liga (1939/40/41) como Barbosa.  De graça trocada, foi convocado para a seleção paulista de amadores, ficou bicampeão brasileiro-1941/1942 e recebeu convite  do treinador do Ipiranga, Caetano Domenico, para tentar o futebol profissional. Por Cr$ 5 mil cruzeiros, de luvas (antigo sistema de levar uma graninha, por fora, nas assinaturas de contrato) e Cr$ 800 mil cruzeiros mensais, estava bom, pra começar.       

Barbosa estreou pelo Ipiranga, em 1943, fazendo um grande Campeonato Paulista. Tão bom que, na temporada seguinte, o Vasco da Gama bateu à sua porta, oferecendo-lhe Cr$ 60 mil cruzeiros de luvas e salário inicial de Cr$ 1 mil.  Não dava pra ele Ipiranga dizerem não. Reserva do goleirão palmeirense Oberdan Catani, nas seleções paulista de 1941 e de 1942, Barbosa partiu para São Januário, indicado por Domingos das Guia, par disputar posição com Oncinha, Roberto, Barqueta e Martinho, o que pirou, em 1945, com mais duas concorrências, de Castro e de Rodrigues.

De inicio, Barbosa não teve vida fácil.  Ganhou vez, em 11 de novembro de 1945,  em Vasco da Gama 4 x 0 Madureira, em São Januário. No jogo seguinte, porém, devolveria a posição para Rodrigues. Quando nada, a sua estréia vascaína havia marcado a conquista do título carioca, com uma rodada de antecipação. E o que valia era o que ficara escrito no caderninho:   Barbosa; Augusto e Rafagnelli; Alfredo II, Ely e Berascochea; Santo Cristo, Ademir, Isaías, Jair e Chico, o time que o treinador uruguaio Ondino Vieira escalara diante do Madura, para ficar na história das glórias da Colina.

Campeão carioca com apenas uma partida disputada, Barbosa saiu para outras. Ajudou o Vasco a ganhar a última edição do Torneio Relâmpago-1946 – entre os grandes cariocas –   e os Torneios Municipal-1946/1947, reunindo só times da cidade do Rio de Janeiro. Mais? Voltou a usar faixas de campeão estadual, em 1947/49/50/52. Também, papou o maior título da história cruzmaltina, em 1948: campeão dos campeões sul-americanos de clubes, o primeiro do futebol brasileiro no exterior. Em 1955, Barbosa decidiu encerrar a sua história cruzmaltina. Mas voltou a São Januário, em 1958, pra ser campeão dos Torneios Início e Rio-São Paulo, e do sensacional SuperSuperCampeonatoCarioca. Tudo em cima, para um super-goleiro.

Por ser este texto homenageadeiro, não se fala do insucesso de Barbosa no gol que tirou da Seleção Brasileira, diante do Uruguai, o título da Copa do Mundo-1950. Principalmente, porque muitos entendidos técnico absolveram a sua leitura do lance em que Ghiggia não deveria ter chutado para o gol. O capitão brasileiro,  Augusto da Costa, por exemplo,  considerou mais culpado de4 falhar no lance o zagueiro flamenguista Juvenal, que não dera, segundo ele, cobertura ao lateral-esquerdo Bigode, um outro rubro-negro.

A ilustração aqui de Barbosa é de autoria de Fritz e foi publicada à página 14 do Nº 100 da Manchete Esportiva, que circulou com data de 19 de outubro de 1957.

Barbosa enfrenTando o Grêmio-RS, em 18.03.1945, em Porto Alegre

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