Fazer dois gols em cima de uma zaga que tinha o flamenguista Pavão, considerado um dos maiores “craques no sarrafo” do futebol carioca da década-1950, não era pra qualquer um, não. E marcar três, tendo pela frente o “armário” vascaíno Ortunho, não seria mesmo pra nenhum carinha bobo, mesmo!
Pois um rapazinho magrinho, de 19 de idade, fez isso. E mais: jogando pelo “pequeno” Bonsucesso. Aconteceu nos 2 x 2 Flamengo, de 28 de novembro de 1958, e em 25 de julho e 25 de outubro, respectivamente, em “Bonsuça” 2 x 4 e 3 x 3 Vasco. Além disso, o garoto marcara outros dois tentos sobre o Olaria e um encarando o Canto do Rio. Total: 9. Significava muito em relação ao 20 do principal artilheiro da temporada, o botafoguense Quarentinha, que jogava em um ataque com Garrincha, Didi e Paulo Valentim, feras mais do que ferozes e de Seleção Brasileira.
Antes de o campeonato começar, só se sabia que o centroavante Cabrita era filho de um ex-goleiro do América – e dele herdara o apelido. No mais, era mera aposta do técnico Daniel Pinto. Enquanto isso, em São Januário, o treinador Gradim (Francisco de Sousa Ferreira) sentia uma imensa saudade do seu antigo camisa 9, o campeão mundial Vavá, que disputara apenas três partidas e fora negociado com o espanhol Atlético de Madrid.
Sem o conterrâneo pernambucano Edvaldo Izídio Neto, o craque Almir Albuquerque passou a ter Wilson Moreira como parceiro de dupla fatal. Mas o novo cara não agradou tanto quanto Vavá,levando o Gradim a experimentar Delém, Roberto Pinto, Valdemar e Rubens, que não emplacaram tanto na função matadeira.
Foi então que os cartolas vascaínos lembraram-se daquele garoto que havia aprontado diante de sua rapaziada, e foram buscá-lo. Veio a rodada de 17 de maio de 1959, pelo Torneio Rio-São Paulo, e o Vasco teria o Santos pela frente. Gradim relacionou o novo contratado para o banco dos reservas e o mandou para o jogo, no segundo tempo, em lugar de Zé Henrique. E Cabrita já saiu de campo tendo uma história para contar aos netos: ajudara a vencer o time do Rei Pelé, por 3 x 0, diante de aproximadamente 21 mil espectadores, no paulistano Pacaembu, fora de casa – Laércio, Ramiro, Getúlio e Mourão; Álvaro e Zito (Fiote); Dorval, Jair da Rosa Pinto, Coutinho, Pelé e Pepe foi o Peixe, enquanto o Vasco alinhou: Barbosa, Dário, Viana e Coronel; Laerte e Russo; Sabará, Robson, Zé Henrique (Cabrita), Rubens e Peniche (Osvaldo).
Mesmo com uma estréia vitoriosa, Cabrita só voltou a ter uma chance de jogar em 16 de agosto, pelo Campeonato Carioca, quando o Vasco goleou o seu ex, o Bonsucesso, por 6 x 1, e ele deixou o dele na rede, jogando ao lado de: Barbosa, Paulinho, Bellini e Orlando; Écio e Coronel; Sabará, Cabrita, Pinga, Rubens e Teotônio. Uma semana depois, Cabrita esteve nos 4 x 2 contra o Madureira. Como não marcou, foi barrado na rodada seguinte. Voltou a time (27.09) nos 2 x 1 Canto do Rio, ainda sem marcar. Por isso, tornou a ficar de fora de um clássico – contra o Fluminense. Reapareceu (18.10) voltando a vencer o Bonsuça, daquela vez por 3 x 2, e, em seguida (24.10), ficou no 1 x 1 com o Bangu.
Seis jogos e um gol. Assim se contava a história de um centroavante contratado para fazer a torcida vascaína esquecer Vavá. Pouquíssimo, ou quase nada, na verdade. Cabrita, no entanto, reagiu marcando cinco gols nos primeiros amistosos da temporada que abria uma nova década – 13.01.1960 - Vasco 2 x Combinado da Federação Metropolitana de Futebol-RJ (1); 16.01 – Vasco 6 x 3 Atlético-MG (1); 30.01 – Vasco 6 x 1 Alianza Lima-PER (2). 03.02 – Vasco 3 x 1 Universitário-PER (1);
O destino, porém, reservava algo muito importante para Cabrita. No dia 19 de abril de 1960, no último jogo (no Maracanã) do Rio de Janeiro como capital do país, o último gol foi dele. Depois de ficar um tempão no banco dos reservas. Aos 80 minutos, venceu o goleiro Valdir Joaquim de Moraes e fechou o placar, em Vasco 3 x 0 Palmeiras – Miguel, Dario, Bellini e Coronel; Écio e Orlando (Barbosinha); Sabará, Waldemar, Delem, Roberto Pinto (Cabrita) e Ronaldo foi o Vasco.
Cabrita participou, também, entrando no segundo tempo, do primeiro jogo do Estado da Guanabara, em 24 de abril: Vasco 0 x 0 Santos. Continuou invicto diante do “Rei” – Barbosa, Dario, Bellini e Coronel; Barbosinha (Brito) e Écio; Sabará, Waldemar, Delem (Cabrita), Pinga e Roberto Peniche foi o Vasco. O Santos teve: Laércio, Feijó, Mauro e Dalmo; Calvet e Zito; Dorval, Mengálvio, Coutinho (Ney), Pelé e Pepe (Tite).
Cabrita, isto é, Jorge Soares Marins, cidadão campista-RJ, nascido em 20 de janeiro de 1939 e cria do Goytacaz, não passou mais de uma temporada na Colina. Tudo por causa de uma discussão com o treinador Ely do Amparo. Foi negociado, por Cr$ 500 mil cruzeiros, com o Guarani de Campina. Em 1961, já estava no Jabaquara, para ficar até 1965 – jogou, também, por Portuguesa Santista, Noroeste de Bauru, Ferroviária de Araraquara e São Bento de Sorocaba. (foto reproduzida da Revista do Esporte).
Na parede, a foto do pai goleiro |
Notícias sobre ele? |
Quanto a Cabrita, saído da pugna como o autor do último gol no Maracanã do RJ capital, um outro fato que marcou a sua carreira: foi o atleta escolhido para a seção "Raios X de Corpo Inteiro" do Nº 1 da principal semanário esportiva brasileira, entre 1959 e 1970, a "Revista do Esporte". Mas sobre ele você vai ler na materia abaixo, em "Feras da Colina".
PRIMEIRO 'MARACA' GUANABARINO - Além de ter feito o último jogo no Maracanã em capital brasileira, o Vasco fez, também, o primeiro do estado da Guanabara. Rolou em 24 de abril de 1960, no empate, por 0 x 0, com o Santos, pela mesma competição citada acima. Na Turma da Colina estiveram: Barbosa; Dario, Bellini e Coronel; Barbosinha (Brito) e Écio; Sabará, Waldemar, Delem (Cabrita), Pinga e Roberto Peniche. Do outro lado, “Ele”, o glorioso Rei do Futebol, que entrou nesta escalação: Laércio; Feijó, Mauro e Dalmo; Calvet e Zito; Dorval, Mengálvio, Coutinho (Ney), Pelé e Pepe (Tite).
Esta partida, que rendeu Cr$ 656 mil e 519 cruzeiros, foi apitado por um sujeito que entrou para a história do futebol brasileiro, por ter sido o primeiro a expulsar Pelé de campo. Chamava-se Catão Montez Junior – e estava coberto de razão no dia em que mandou o "Rei" esfriar a cabeça mais cedo debaixo do chuveiro.
FOTOS REPRODUZIDAS DA REVISTA DO ESPORTE
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