Vasco

Vasco

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

HISTÓRIAS DO KIKE - JORGE 26

 O Fluminense jogava pelo empate; o América pelo vencer, ou vencer, para voltar a ser campeão carioca, o que não era desde 1935. No comando dos tricolores, aos 52 de idade, o Seu Zezé Moreira, a quem atribuíam a moda do treinador usar terno e gravata na boca do túnel, durante partidas de futebol; do lado americano, Jorge Vieira, de 26 de idade, só um mais velho do que Wilson, filho do treinador adversário. Logo, poderia ser seu filho.

 Entre torcedores dos outros clube, não se botava muita fé no América, embora secassem o Fluminense. Tudo porque que o Moreira tinha a experiência de já ter dirigido grandes times nas últimas 11 temporadas, com três títulos no currículo: Botafogo-1948 e Fluminense-1951 e 1959. Isso, além da Copa Rio-1952, autêntico Mundial de Clubes (Flu) e dirigido a Seleção Brasileira da Copa do Mundo-1954. De sua parte, Jorge Vieira, ponta-direita do Madureira-1953 a 1955, só havia treinado o mesmo Madureira (1956/1957, vencendo o Torneio Início-RJ-1957; passado três meses no Fluminense-1958 e comandado o selecionado cearense do Brasileiro de Seleções-1959.

Chegado ao América, em 1960, com "curriquim" bem contrastante com o "currricão" do rival da decisão do título carioca-1960, Jorge Vieira apresentou-se diante dele, no Maracanã, e de 98.099 pagantes, na tarde do domingo 18 de dezembro daquele 1960, para grande batalha tática. Aos 26 minutos, pênalti contra o seu time. O zagueiro Pinheiro bateu e escreveu: Flu 1 x 0 América, placar que perdurou por todo o primeiro tempo.

 Veio a etapa final e Jorge Vieira avisou à torcida que não aceitaria cair, facilmente. Inflou, com mais ânimo, a sua rapaziada durante o intervalo da partida e, aos cinco minutos, o ponteiro-esquerdo Nilo empatou o prélio: 1 x 1. Como a igualdade deixaria os tricolores bi, Seu Zezé Moreira segurou a sua moçada na defensiva, tornando-a “a menos brasileira do futebol brasileiro”, como a considerou a revista O Cruzeiro. Jorge Vieira, afoito, mandou a sua patota cavar o gol. Exigia futebol ofensivo. Nada de negar futebol-arte, futebol-espetáculo. E, já que o Fluminense estava satisfeito ficando "em cima do muro do 'Maraca', lendo a cartiha do “primeiro se defender”, o Vieira pensava diferente e achava que “atacar era a melhor defesa”. Contando com grandes atuações do apoiador Amaro e dos atacantes Calazans, João Carlos e Nilo, seu time virou o placar, aos 34 minutos do segundo tempo, quando Nilo bateu falta, de fora da área, o goleiro Castilho deu rebote e o lateral-direito Jorge mandou a bola pra rede: América 2 x 1.

Jorge Vieira foi carregado pela torcida americana por conquistar o título carioca-1960. Há 25 disputas, seu clube não vivia glórias.

 O chute do Nilo - camisa 11 –  terminado em gol do título, aos 34 do segundo tempo, deixou 11 minutos rolando pra Jorge Vieira duelar, taticamente, com Zezé Moreira - este, assim como o Jorge, um ex-atacante, mas que defendera grandes times, como Flamengo, Palestra Itália (atual Palmeiras), Botafogo e América-RJ.

  Os 52 de idade do Seu Zezé, naquele tarde, não inspiraram mais experiência e nem sapiência do que os 26 do Jorge, que apresentava  a defesa menos vazada do campeonato. Chegava ao final do campeonato “todo futebol-arte, todo bem brasileiro”, no dizer, também de O Cruzeiro.

 Assim que o árbitro Wilson Lopes de Souza olhou para os bandeirinhas José Gomes Sobrinho e Antonio Viug, e os atletas americanos sacaram que iriam ouvir o apito final, a festa começou, dentro de campo, para quem havia lutado tão bravamente: Ari; Jorge, Djalma Dias, Wilson Santos e Ivan; Amaro e João Carlos; Calazans, Antoninho (Fontoura), Quarentinha e Nilo. Com eles, Jorge Vieira vencera o famosíssimo Zezé Moreira, que tivera: Castilho, Jair Marinho, Pinheiro, Clóvis e Altair; Edmílson e Paulinho (Jair Francisco); Maurinho, Waldo, Telê e Escurinho.

 Depois do título e sendo o mais jovem treinador a conquistar campeonato importante,  Jorge Vieira passou por vários clubes grandes e conquistou outros títulos, entre eles campeão baiano (Galícia-1969); paulista (Corinthians-1979 e 1983); Taça Cidade de São Paulo (Botafogo de Ribeirão Preto-1977) e Torneio Início do Campeonato Paranaense (Coritiba-1976). Também, foi vice-campeão brasileiro (Palmeiras-1978). Entre os seus trabalhos no exterior – El Salvador, Portugal. México e Iraque -, neste último teve mais sucesso, levando-o à Copa do Mundo-1986. Nascido no Rio de Janeiro, viveu entre 18 de julho de 1934 a 24 de julho de 2012. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário