O Vasco teve um jogador de meio-de-campo – na década-1950, médio-volante –, que ficou marcado pelo seu alto grau de civilidade. No entanto, em 1959, já campeão dos Torneios Início e Rio-São Paulo, além do SuperSuperCampeonato Carioca, todos em 1958, ele anunciou uma decisão esquisitas, jamais cobrada por nenhum atleta, no planeta: só renovaria contrato se fosse dispensado de viagens áreas. Com ele, pelo alto, só a bola.
Écio Capovilla é o nome dele. Paulista, de Valinhos, ele esteve cruzmaltino, entre 1957 e 1964, quando transferiu-se, para o peruano Sporting Cristal, de Lima, e encerrou a carreira, dois anos depois. Evidentemente, o Vasco não toparia uma proposta daquelas, pois seu time estava, sempre, viajando, e os contratos para amistosos exigiam a presença de todos os titulares.
Como sofria o Écio quando entrava nas aeronaves. Naquele 1959, o seu primeiro pavor aéreo rolou, entre 15 e 24 de fevereiro, quando a rapaziada viajou a Pernambuco e à Bahia, para disputar cinco amistosos – 0 x 2 Santa Cruz; 3 x 3 Sport Recife. 6 x 1 Ypiranga-BA; 1 x 0 Vitória e 0 x 1 Bahia. Passados poucos dias, o Vasco voltou a entrar nas nuvens e foi fazer três amistosos, entre 7 e 15 de março, em São Paulo e Mato Grosso – 2 x 2 Santos; 1 x 2 Palmeiras e 6 x 1 Marítimos, em Corumbá, que ainda não era Mato Grosso do Sul.
Écio queria contrato que não o levasse para o Céu. Na terra tava bom demais |
Entre 1º de abril e 17 de maio, Écio jogou o Torneio Rio-São Paulo. Como passava pouco tempo lá em cima, menos de uma hora, dava pra se segurar. Duro mesmo, naquela temporada, foi atravessar o oceano Atlântico, para disputar nove amistosos na Europa, entre 18 de maio e 21 de junho. Com jogos marcados para a Suécia, Dinamarca, Finlândia, França e Espanha, seria um terror os sobe e desce em aviões. Como o Vasco vinha se dando bem diante dos europeus – 5 x 1 Oddevold; 11 x 0 Östersund; 4 x 1 Nybro (suecos); 2 x 1 Combinado Staevnet/Alliancen (dinamarquês), e só dado um tempo nas vitórias pela Finlândia – 1 x 1 Helsinque Alliansen, o ético e leal Écio encontrou um bom motivo para não subir mais pelo espaço do Velho Mundo: procurou o médico Waldir Luz, e queixou-se de uma velha distensão muscular, sofrida 40 dias antes da viagem.
Depois de examinado, ouviu do médico que dava para ele continuar na excursão. Então, ponderou que o time vinha jogando e ganhando bem, e ele precisava estar inteiro para o Campeonato Carioca, na campanha do bi. E convenceu ao homem e ao treinador Francisco de Sousa Ferreira, o Gradim. Só o cartola João Silva não gostou nada daquela história. Mas foi convencido, também. Écio tinha créditos. E, da radiante Paris, voltou a cruzar o Atlântico. De sua parte, o time ainda venceu o italiano Milan (2 x 1) e caiu ante o Fortuna Düsseldorf-ALE (1 x 2), pelo Torneio de Paris. Depois, passou pelo espanhol Atlético de Madrid (5 x 4) e perdeu o último jogo da excursão, diante o também espanhol Bétis (1 x 2).
Como o Campeonato Carioca começaria em 12 de julho e rolaria até 18 de dezembro, Écio imaginou passar o restante da temporada sem ir pelos ares. Mas o Vasco acertou, ainda, cinco amistosos fora de casa – 4 x 1 Coritiba-PR; 2 x 0 Rio Branco de Paranaguá-PR; 3 x 0 Ituiutaba-MG; 1 x 0 Uberlândia-MG; 3 x 2 Vila Nova-GO –e teve mais dois jogos, contra o Bahia, em Salvador – 2 x 2 e 0 x 1 –, pela Taça Brasil, o primeiro torneio a classificar um time brasileiro à Taça Libertadores. Écio nem chegou a apresentar a inédita cláusula contratual ao Vasco. Percebeu que não teria sucesso, pois defendia um clube que passava parte do ano em terra e a outra parte no Céu – Amem!
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