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sábado, 11 de março de 2017

KIKE EDITORIAL-14, OU O VENENO DO ESPORPIÃO - CIÚME À BRASILIENSE

Brasília é a capital do mimetismo social. Por mínima importância que tenham, os seus habitantes que circulam pelas artérias que levam ao seu coração se alçam a prestígios estratosféricos e insinuam tremenda intimidade com o poder. 
Quem mais sofre com eventuais desprestígio  do Palácio do Planalto  é o Ministério das Relações Exteriores, o chamado Itamaraty. Faz beicinhos, calundus e não disfarça o ciúme. Um dos casos mais marrentos rolou, em 1963, quando o presidente João Goulart tratou, diretamente, com o embaixador Lincoln Gordon e trouxe ao Brasil o Secretária de Justiça dos Estados Unidos, Robert Kennedy, irmão do presidente John Kennedy. Ignorou, completamente,  a diplomataiada. Se bem que não era a primeira vez em que a Casa do Barão de Rio Branco ia a escanteio.


 Por aquela época, passada a crise envolvendo Washington e Moscou, devido a decisão soviética de instalar mísseis nas barbas do Tio Sam, em Cuba, o Kremlin já reconhecia o pedaço cucaracha como área de influência do seu rival na guerra fria e desistira de ver, por aqui, países neutralistas e não alinhados. De sua parte, os “Iztêitiz” queriam um papinho com Brasília. Se ela fazia parte do seu quintal, porque então o seu governo encampara empresas norte-americanas? Porque negociara, com a Polônia, a compra de 100 helicópteros e a montagem de uma usina termoelétrica, em São Jerônimo-RS?

NINGUÉM MELHOR DO QUE o Itamaraty para correr atrás desse papo, certo? Claro que não, do ponto de vista do Jango.
 Arestas a aparar, João Belchior Marques Goulart precisava que o Tio Sam dinamizasse, urgentemente, a cota brasuca no programa Aliança para o Progresso e a continuidade da sua ajuda militar às nossas forças armadas. Para ele, assuntos muito importantes para deixar por conta de diplomatas. Deveria ser papo de pé do cangote entre ele e o bico da “Águia”,  num momento em quereatava-se relações diplomáticas e comerciais com a patota liderada pelo Primeiro Secretário do Partido Comunista soviético, Nikita Serguêievitch Khrushchovv.             
 Com o Itamaraty no banco dos reservas, sem nenhuma chance de entrar em campo, o ciumento “premier” e chanceler interino Hermes  Lima não compareceu ao desembarque de Robert Kennedy, no aeroporto de Brasília, durante uma madrugada. Pediu ao Ministro da Guerra, o general Amaury Kruel, para representa-lo. De quebra, quando chegou ao Palácio da Alvorada, para participar de uma conferência, Jango já estava trancado na biblioteca com Bob Kennedy, que  passou 18 horas na cidade, cinco das quais do seu lado, sendo três de parrapapás e duas num  regabofe.
 
 O BRASIL VISITADO POR Bob Kennedy vivia um incômodo processo inflacionário, com Jango precisando reconquistar, por plebiscito, autoridade e poder diluídos pelo parlamentarismo e, sobretudo, empossar um ministério estável. Por isso, ele adotou uma diplomacia pessoal e agressiva. Pela lógica e o bom senso, deveria fazê-lo com a participação de outros membros do seu Governo – menos do ciumento Itamaraty, que não tinha força nem para convencer Moscou a não substituir o seu embaixador no Brasil por diplomata de nenhum prestígio.

       

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