Salvo das águas: significado do nome Moisés, vindo do hebraico Mosheh. De acordo com história bíblica, um bebê teria sido colocado em um cesto lançado a um rio e resgatado pela filha do faraó egípcio. Nesses tempos mais modernos, o zagueiro Moisés, do Vasco da Gama-1971 a 1976, não foi resgatado em nenhum rio, mas cresceu nadando e mergulhando, aos primeiros raios do sol, nas águas do Rio Paraíba, em Resende-RJ.
Moisés aprendeu, com o pai, a fazer pescas com anzol, mas o que ele queria mesmo era desenvolver-se em mergulhos submarinos, o que não podia, por que a grana do coroa - sargento do Exército - não sobrava para comprar equipamentos especializados em visitas ao fundo do mar. Então, ele ficava só no sonho do garoto.
Um dia, o pai – e mestre de pescarias – de Moisés foi servir em um quartel do Rio de Janeiro. Como o seu salário só lhe permitia residir em subúrbio longe do mar, o garoto só achou o futebol para se divertir. Ganhou a chance de treinar no Bonsucesso, sobretudo porque era forte, ágil e sabia espantar os atacantes. Chegando ao time principal, formou uma tripla terrível, com Renê e Paulo Lumumba, a mais temida do futebol carioca, batendo até na alma de quem pintasse pela frente.
Por aqueles tempos, Moisés não acreditava em seu futebol, e dar porradas nos atacantes era a sua única fonte de sobrevivência em campo. Mesmo assim, após fazer 19 de idade, passou por Flamengo e Botafogo, para deixar de ser um suburbano bitolado, conhecer novos ambientes, viajou pelo exterior e até fez curso de mercado de capitais. Próxima parada: zaga do Vasco da Gama.
Placar foi ao mar pescar Moisés pescando um melro
Com a jaqueta cruzmaltina, o malvado Moisés passou a jogar mais na bola do que na canela dos adversários, firmou-se como titular, passou a ser elogiado pela imprensa e ganhou convocação para a Seleção Brasileira. Aos 25 de idade, finalmente, pode comprar a sonhada casa na praia. Por atribuir o seu grande progresso ao Almirante, fez questão de casar-se na capela de São Januário.
Tudo ia bem para Moisés no Campeonato Brasileiro-1973, até ele sofrer lesão no joelho direito. Com Renê, antigo parceiro de Bonsucesso, suspenso, e ele correndo o risco de passar por uma cirurgia, a defesa da Turma da Colina sofreu uma abalo. Ele intensificou os trabalhos de recuperação, mas, ao tentar voltar a jogar, o joelho doeu e ele saiu de campo chorando, achando que, por ali, sumiriam as suas chances de disputar a Copa do Mundo-1974.
O espírito das águas, no entanto, o ajudaram. Ele venceu período de tratamento do problema físico e, em 2 de dezembro daquele 1973, em Vasco da Gama 0 x 0 Figueirense, no Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis, atuou bem e nada sentiu. A não ser uma porrada no supercílio direito - ver foto da revista Placar – Nº 197, de 21.10.1973 –, o que não era nada para quem estava acostumado ao mundo porradeiro.
Recuperada a sua vaga de titular vascaíno, Moisés encerrou a sua participação na segunda fase do Brasileirão-1973 ajudando a rapaziada a mandar 1 x 0 Fluminense; 2 x 1 América-RJ e 1 x 0 Botafogo. E foi passar as férias no mar, completamente, nas águas da galera - daquela vez, usando o que de melhor havia em roupas de mergulho, compradas na Itália, com a grana que o Almirante lhe pagava pra afogar atacantes.
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