Vasco

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domingo, 4 de junho de 2017

DOMINGO É DIA DE MULHER BONITA - AÍDA CURI, A MARTIR DE COPACABANA

Aída passara 12 anos no Educandário Gonçalves de Araújo, preparando-se para ser freira. Desistiu, trocando seu planejamento de futuro por um cargo no serviço público, mais precisamente no antigo IPASE – Instituto de Pensões e Aposentadorias, órgão criado, em 1938 e que,  em 1966, foi unificado ao INPS –Instituto Nacional de Previdência Social.
Mesmo fora do convento, Aída seguiu sendo uma jovem muito católica e recatada. Quando estava em casa, gostava de tocar piano e ver balé, pela TV. Nos estudos, tirava, quase sempre, a nota máxima. Queria ser fluente no idioma inglês. Mas não teve tempo para isso. Sete meses após viver novos rumos, na única vez em que mudou a sua rotina, o destino a devorou.
Aída – durante o dia, trabalhava no comércio do irmão Nélson;  à noite, frequentava o cursinho preparativo ao concurso público – não chegou a virar o calendário do dia 14 de julho de 1958. Ela procurava óculos para comprar e melhorar a sua miopia, quando cruzou com Cássio Murilo, que a convidou a subir e ouvir discos, no que contou com a ajuda do porteiro Antônio João, que passou-lhe a chave do 13º andar do Edifício Rio Nobre, da carioca Avenida Atlântica, em Copacabana.
A pretensa audição musical terminou em uma tentativa de estupro, tendo Cácio por parceiro o amigo Ronaldo Souza Castro. Aída preferiu o pior a entregar-se. Atirou-se de cima do prédio, tornando-se vítima fatal da juventude transviada da moda de então. E foi passou a fazer parte da galeria de mártires que incluía a menina  italiana Maria Goretti – santificada pela Igreja Católica –, da qual mantinha uma gravura em seu quarto de dormir, à mesinha da cabeceira de sua cama.
 Ronaldo foi condenado a 37 anos de reclusão, cumpriu cinco e obteve liberdade condicional; Cássio Murilo, por ser menos de idade, foi internado no SAM-Serviço de Assistência ao Menor; Antônio João pegou 30 anos de prisão, no primeiro julgamento, mas foi inocentado no segundo.

A BARBARIDADE – Exames das roupas que Aída usava, feitos pelo laboratório do Instituto de Criminalística do Departamento Federal de Segurança Pública, de tão despedaçadas que ficaram, davam a impressão de a moça ter sido atacada por um bando de leopardos.
Como sofreu a “inditosa” – termo da época, para mulheres violentadas. O legista  Mário Martins Rodrigues encontrou, em seu rosto, esquimoses circulares, de 14 milímetros de diâmetro, coincidindo com um estrago que poderia ser feito pelo anel (contendo a efígie de São Jorge) do porteiro Antônio João. 
  Após ter o sutian arrancado e rasgado em duas partes, Aída recebeu unhadas profundas no seio direito, fazendo o sangue manchar a sua blusa, de algodão, com listras vermelhas e brancas. A saia, de algodão branco e listrada de verde foi rasgada, de alto a baixo, do lado esquerdo, e apresentou, ainda, um rasgão maior na frente. Havia mais um grande rasgo na parte dianteira, na altura das pernas. A anágua, de cetim branco, também teve o lado esquerdo totalmente descosturado, e o botão do cós arrancado, violentamente.    
 Aída lutou o quanto pode. Seu lenço branco e bordado, com o qual limpou a boca  manchada de sangue, e a esquimose em seu lábio superior, produzida por esbofeteamento, eram provas.
Dentro da bolsa de Aída, estavam os óculos lhe tomados por Ronaldo, que lhe dissera só devolvê-los se ela subisse ao prédio com ele e Cássio. Ficaram esmigalhados pela queda de tão alto, deixando centenas de pedacinhos dentro da bolsa. Ao se atirar lá de cima, Aída raspou, fortemente, o seu pé esquerdo na superfície áspera do prédio, deixando uma mancha escura entre o parapeito e o 12º andar, com 98cm de comprimento e 5 a 8cm de largura.

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