Não havia jogador mais habilidoso e veloz do que Aldemário na Liga de Futebol de Anandera. Bola lançada pra ele disputar com os beques na corrida, seguramente, era o mesmo que sair pro abraço: ganhava todas. Quando pegava de frente quem ía combatê-lo, aplicava-lhe uma quebra-de-asa, jogando o corpo para a sua direita e puxando a pelota para a esquerda, pra mandar um chutaço para as redes.
Em uma das tardes de domingo em que ele extrapolou na velocidade, correndo contra a marcação, ganhou o apelido de Vitório Brambilla, por conta do que fizera um piloto italiano de Fórmula-1 durante o GP que a TV mostrara pela manhã, batendo recordes de velocidade na pista de Brands Hatch, na Inglaterra. Era ele sair pra correr e a galera gritar:
- Brambilla! Brambilla! Bramba! Bramba! – que virou
BrambaBamba, promoção que incendiava as disputas ananderenses.
A fase era boa e BrambaBamba tornou-se a
figura mais popular da terra. De repente, ele apareceu meio-gordinho em um dos jogos do Vasco das Gramas, levando o português Seu Vasco
Dines, criador e mantenedor do time, a se virar para arrumar uma desculpa pro
súbito desleixo do seu artilheiro. Bem que o preparador físico tentou dar um jeito
na coisa, matando-o durante os teinos da semana seguinte. Mas não adiantou. O
BrambaBamba entrou em campo, no jogo seguinte, pesando 771 gramas acima do seu peso normal, nem
tanto incondizentes com a sua altura, de 1m71cm. Mas a torcida adversária não o
perdoou, gritando:
-
Gordinho! Gordinho! Gordinho!
Arte: Renato Aparecida - desenhosrosart@gmail.com
Treinos e mais treinos vieram, ele fora
exigido ao máximo para perder peso, mas não fazia as pazes com a balança. Houve
rodada em que pesou até mais: 866 gramas acima do seu peso normal, de 63 quilos,
levando o seu treinador a perdere a paciência e coloca-lo no banco dos reservas.
Sem o veloz e habilidoso BrambaBamba em seu
ataque, o Vasco das Gramas empatou cinco partidas consecutivas, desperdiçando 10 pontos
e permitindo ao rival Fluísco ir para a decisão do Torneio da Páscoa em
vantagem de gols, três a mais. Para aumentar o clima de competição, faltando dois dias para a decisão, cartolas do
adversário espalharam que o irmão (de 10 de idade) do Bramba contara ser o artilheiro muito guloso e passar o dia comendo chocolates. Sacanagem que asssanhou ainda mais a galera.
Veio o dia da finalíssima do torneio, em um muito,
muitão ensolarado domingão pascoaleta,
como falava o Seu Vasco Sines, e os dois finalistas foram afiar os bigodes dentro
das quatro linhas – sem contar, evidentemente, as meias-luas das grande áreas e
as pequenas e grandes áreas. Rolava conternda duríssima. Até parecia que o caneco
teria de ser carregado por disputas
penaltrísticas, como brincava o apoiador vascaíno Gula, batizado e registrado
por Augusto.
Eram decorridos 40 minutos do segundo tempo,
quando o treinador vascaineiro chamou
o BrambaBamba pra entrer em ação. Assim que ele pintou à beira do gramado, a torcida
rival soltou o grito:
-
Gordinho! Gordnho! Gordo! Gordo!
Brincalhão,
sempre alegre que ele era, nem ligou para as gozações dos rivais e acenou, com
as duas mãos estendidas para cima, no rumo da galera que lhe apupava. Em
resposta às gozações, aos 42 mintos, lançado pelo ponta-direita Tiça, acertou o
travessão superior fluisquense, no
dizer do seu colega e também atacante Pé-de-Ferro. Fez a torcida roer as unhas. Aos 45, em bola esticada pelo apoiador Korcino
Eletricidade, ele superou os seus 874 gramas a mais naquela tarde, bateu o marcador, em velocidade, e marcou mais um golaço para o seu currículo, tirando a diferença
de gols que dava vantagem ao adversário. E só deu tempo de o juizão autorizar um
novo pontapé de reinício e encerrar a contenda.
Rolavam as comemorações pelo título, quando o
BrambaBamba correu para a sua torcida, pra fazer mais festa, ainda. Foi quando
um torcedor lhe atirou um chocolate, que ele o despapelou e mordeu diante do
fotógrafo Zé de Neco, que estampou uma fotaça
no jornal do dia seguite, acompanhada pela manchete: Chocolate: 4 x 0.
Eis os plikativos: o termo CHOCOLATE no futebol surgiu na tarde do 25 de janeiro de 1981, quando o Vasco da Gama mandou 4 x 0 Internacional-RS, pelo Campeonato Brasileiro, no Maracanã. Goleada rolando, uma emissora de rádi começou a tocar a música “El Bodeguero”, gravada pelo cubano Richared Egües, que cantava:: “Toma chocolate/Paga lo que debes”. Na época, torcedores gostavam de assistir jogos os ouvindo por rádinhos à pilha. Depois daquele sacode vascaíno, a galera saiu do Maraca cantando a música cubana. Pegou e goleada virou siônimo de chocolate - mais uma contribuição vascaína ao dicionário do futebolês.