Seu Vasco Sines, fundador do Vasco da Gramas, time que disputava os campeonatos da Liga Ananderense de Futebol, fazia de tudo para a sua rapaziada ganhar de qualquer ser - até extraplanetário - que, por acaso, lhe aparecesse pela frente. Também, para o seu município mudar de nome, de Ananderanthera, para Anandera, como for apelidado pelo povo - mais fácil de falar -, o que suscitava debates acirrados entre os munícipes pela troca ade nomenclatura. A turma da bola, por exemplo, já nomeara a sua entidade por Liga Ananderense de Futebol, o que contara com o apoio publicitário de sua empresa de vendas de gramas para jardins - e o que mais rolasse, inclusive campos de futebol.
De tão apaixonado que era pelo
seu Vasco das Gramas, o fanático Vasco Sines criou um jornalzinho que circulava
às segundas-feiras, ou depois de jogos em outros dias, divulgando as vitórias
de sua rapaziada. Empates até poderiam ir para as páginas, desde que fossem com
sabor de um triunfo.
Pelo final daquela temporada, com o seu Vasgrama - como ele falava, quando estava apressado na conversa -,
campeão em várias modalidades e categorias, ele presenteou os seus astros com
uma excursão à terrinha, como se
referia a Portugal, a sua pátria. Até conseguiu estender o giro da equipe
futebolistas à Moscou, enviando junto com os atletas um repórter e uma fotógrafa para cobrir o
giro europeu. Queria tudo estampado no jornal do seu time, o que parecia
significar estar vendendo muitas gramas.
Em Moscou, o seus enviados
especiais de imprensa mantiveram contatos com os colegas de profissão e
visitaram várias redações de jornais, revistas, rádio e TV. Em uma delas, o
repórter contou que, no Brasil, era comum jornalistas serem homenageados com os
seus nomes em estádios. E ouviu de um dos moscovitas:
- Então, quando eu for à sua
terra poderei ter o prazer de visitar um estádio com o seu nome.
- Nem pensar! Pra ser nome de
estádio, em meu país, o homenageado já deve ter partido dessa para uma melhor,
como falavam os antigos. E eu quero me demorar mais pelo pedaço – retrucou ele que,
de volta a Anandera, sofreu um acidente automobilístico que o deixou mais pra
lá do que pra cá.
ARTE: RENATO APARECIDA - DESENHOS ROSART@GMAIL.COM
O carinha entrou em estado de coma e deixou toda a comunidade esportiva municipal ananderense – ou ananderantherense – esperando que ele chegasse ao ponto final de linha. Num desses dias de expectativa pelo seu futuro, surgiu fake news em uma emissora de rádio, dando conta de sua partida para o outro mundo. Apressadamente, sem apurar a notícia, a Liga anunciou, imediatamente, que o estádio que construía teria o nome do jornalista vascogramense – e, assim procedeu.
Não se sabe qual santo fora o
responsável pelo milagre, mas, dias depois, o carinha saiu do coma e, aos
poucos, se recuperar, totalmente. Ao saber da homenagem recebida, pediu à Liga
para reconsiderar o seu ato homemageatório, por achar que aquilo poderia
agourar a sua vida. Como a entidade demorava-se a atende-lo, ele recorreu à
Justiça, para tirar o seu nome do estádio.
- Não quero ser estadista – justificou, supersticiosamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário