Para aquela temporada, a Liga Desportiva de Anandera prometia o seu maior e mais sensacional campeonato infanto-juvenil de futebol. Para aumentar a temperatura no termômetro das torcidas, colocou os jogos do torneio feminino nas preliminares dos garotos.
A disputa teria - AlVinagre, Baianinho, BlauGrana, Celestial,
Colorado, Mandin, Real Matismo, Tricoline e Vasco das Gramas – seis times
fortes, que bem o demonstraram durante os amistosos preparativos para as
refregas que movimentava a desportividade de Anadenanthera, terra que herdara o
seu nome de uma planta tropical macrocarpa, de presença marcante em ritos
religiosos de tribos indígenas - e que o estava reduzindo, na Câmara Municipal, para Anandera, como o povo falava.
O marketing promocional da
temporada incluía o time Tricoline feminino jogando com o nome de Tricoloras,
com todas as meninas tingindo os cabelos de loiro; o Alvinegro sendo AlVinagre,
patrocinado pelo Vinagre Bertin; o Real Matismo tendo o patrocínio da Farmácia
Bandeira Coité; o Celestial formado pelos rapazes do grupo Jovens Ananderenses
Sportivos Católicos; o Colorado, impulsionado por produtores de soja gaúchos, e
o Vasco das Gramas, do comerciante vendedor de gramas Vasco Sines, poitugu|ês
que vivia noBrasil há mais de 30 temporadas. Faltava patrocinadores só para o
BalGrana, que negociava com o Banco da Bahia-Oeste, e o Baianinho, que abria
conversações com a Casa Bahia Festas.
Pela opinião dos experts, “não
tinha pra ninguém”. Segundo os tais, a Liga
poderia até começar logo um outro campeonato, pois aquele já estaria no papo do Vasco das Gramas, principalmente por causa do
garoto da sua camisa 10, um “menino
estratosférico” - diziam em realmente, jogava demais.
Era tradição na Ligandera, após o final das temporadas
das categorias infanto-juvenil, juvenil, principal e feminino promover
amistosos dos três primeiros colocados, os chamados “jogos da consagração”, contra convidados de vizinhas cidades de
Barrila, Camandaroba e Jupaguá, podendo
neles incluir o craque do campeonato, reforçando a sua equipe. E o jogo das
seleções (masculina e feminina) canarinhas,
formadas pelos 11 melhores de cada posição durante a temporada, tradicionalmente
patrocinado por uma fábrica de brinquedos que lançara um canarinho em suas
vendas.
Como es experts previam, no infanto-juvenil, que vinha sendo o campeonato
mais emocionante, o Vasco das Gramas, com uma defezaça rocha, foi caminhando sem ver ninguém pelas suas proximidades.
Só o seu astro fatal, o FeraFerinha,
como ficou apelidado, marcara 19 gols, em nove jogos do primeiro turno.
Arte: Renato Aparecida - www.desenhosrosart@gmail.com
Com aquilo, o torneio infanto-juvenil perdeu muito do seu atrativo, que
foi herdado pelos juvenis. O FeraFerinha
seguiu repetindo as mesmas grandes atuações dos tempos de infanto, como se não
tivesse passado a jogar contra garotos um pouco mais velhos.
Quando o Vasco das Gramas tomou a ponta do BlauGrana, o assessor de
imprensa da Lingandera aproveitou para fazer, pela Revista do Esporte, que cobria todas as
modalidades presentes na entidade - grande publicidade em torno do feito da
treinadora do novo líder, Mária Petras,
como lhe chamavam os europeus que não conseguiam pronunciar o brasileiro nome dela nos tempos
em que ela jogava por um time da então Tchecoeslováquia - até disputou um
amistoso festivo pela seleção do país e se benzeu, após marcar um gol, razão do
apelido. Como era noiva de um jornalista que a promovia, as diretorias da sua
equipe e do JASC – este tinha por treinador o Padre Geraldo, que jogava no time
principal - aproveitaram para enaltecer
os “valores cristãos da família unida”. E rolou marketing e bola.
A Tia Mária (para a galera), além
de treinadora da garotada, jogava pelo time das Tricoloras, das quais ela fora a primeira a tingir os cabelos de blonde. Ao levar os seus dois esquadrões
aos títulos da temporada, ela ganhou duas páginas inteiras da revista da Ligandera, pela seção A Ficha do Craque (da Craca, para seus fãs),
desfilando as suas particularidades e preferências. Durante os três amistosos
chamados por Jogos da Consagração, esquisitamente,
ela anunciou o fim de sua carreira de atleta e de treinadora, para fazer curso
de arbitragem e mudar tudo em sua vida desportiva.
De sua parte, o a fase dos , campeão
infanto-juvenil e juvenil, quando rolou a
fase dos Jogos da Consagração, foi encarregado de
recepcionar o Rei do Futebol, o convidado
especial do evento. E provocou grandiosa agitação entre os desportistas anandetherenses, ao anunciar a sua transferência
para o Bahia, que seria no novo nome do Baianinho, por exigência do
patrocinador Banco da Bahia-Oeste.
Pelo time do Bahia, o artilheiro Fera Ferinha, que crescia na bola e no corpo, teve o seu apelido (criado pela torcida) trocado para Feraça. E não demorou para a Liga enaltecê-lo pela sua Revista do Esporte. Mas o que aconteceu depois com a careira dele? Isso você lerá em "CCCP - Companhieiros Cuidado com Pelé". Aguarde lançamento do livro.
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