Vasco

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sábado, 23 de novembro de 2019

O VENENO DO ESCORPIÃO - O LOBO DO MAR ERA GRANDECÍSSIMO PICARETÃO

 O cara, realmente, lutou pelo Brasil. Mas não foi por amor as armas. Tiveram que botar uma boa grana na mão dele. Chamava-se Thomas Cochrane e teve a sorte de o imperador francês Napoleão Bonaparte querer dominar a Inglaterra (também). Quando aquele terrível sujeito bom na parte da guerra – de 1803 a 1815, venceu mais de 60 batalhas – saiu na porrada com os ingleses, Cochrane já era almirante e aprisionou mais de 50 navios dos coligados franceses e espanhóis. E ficou famoso, é claro!
Cochrane reproduzido de www.nationalgalleries.org
Fama na praça, Cochrane aproveitou a chance, caiu de pára-quedas na Câmara dos Comuns e foi pra lá propor combate à corrupção. Evidentemente, isso não valeria para ele. Acusado por fraudes na Bolsa de Valores de Londres, foi expulso do Parlamento e  da marinha de Sua Majestade. Era 1814 e ele foi parar na cadeia. 
Um dia, Cochrane saiu do xadrez e, desempregado, arrumou emprego com os revoltosos chilenos, para ajudar a libertar o país do domínio espanhol. Rolava 1818 e ele levou junto alguns chegados, companheiros de escaramuças contra a napoleonada.  Mercenário velho de guerra, pediu alto pelo serviço, muito mais interessado no que tiraria dos navios capturados.
Com pouco mais de duas temporadas no projeto, Thomas Cochrane independeu o Chile e foi morder mais uma graninha com os peruanos, ajudando el reneral San Martín a mandar o jugo espanhol para a pêquêpê.
 Beleza! A história do sucesso cucaracha cochriano chegou ao conhecimento do brasileiro (marechal) Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta, que vivia em Londres, com podres lhe concedidos, pelo Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada, para atuar como diplomata e em missões políticas e burocráticas. 
Caldeira acendeu, rapidão, a ideia de que seria de um cabra macho como Cochrane que o Brasil precisaria para mandar Portugal pro mesmo lugar que Chile e Peru mandaram a Espanha. Afinal, dirigido pelas Cortes-Gerais, os portuguinhas não aceitariam a independência brasileira nem que mulher mijasse na parede. E não deu outra!
Caldeira Brant, reproduzido de funag.gov.br
indicou o almirante Thomas Cochrane...
Para o Caldeira Brant, o Brasil jamais daria um nó na portugada, contando com uma pequena esquadra e, ainda mais, tendo grande parte de oficiais e marinheiros de duvidosa fidelidade ao Imperador Dom Pedro I.
 Para o marechal, o jeito seria pedir um grana ao Zé Bonifácio, para comprar navios e contratar comandantes e marujos mercenários na Inglaterra. Além de sugeri-lo levar um papo com Cochrane, o que foi feito por intermédio do agente brasileiro na Argentina, Correia da Câmara.
 Thomas Cochrane respondeu ao Zé de uma forma em que este não entendeu nada, ficando sem saber se o carinha topava, ou não. Lhe pareceu estar em cima do muro. No entanto, pintou pelo Rio de Janeiro, em março de 1823, trazendo consigo os cinco chegados que estiveram do seu lado no Chile e no Peru. 
O Brasil já estava independido, por Pedro I, mas a marinha apresentada ao Cochrane era um bagulho. Para consolidar independência, não seriam fáceis as refregas que viriam por ai contra a portugada. 
  Sem muita conversa, o Brasil topou pagar ao Cochrane a mesma grana que ele mordera dos chilenos. Acertos feitos, ele assumiu o comando da esquadra  - nau Pedro I; fragatas Carolina, Piranga, Niterói e Paraguaçu; corvetas Liberal e Maria da Glória, e os brigues Rio da Prata, Cacique, Caboclo e Real Pedro – e, de quebra, conseguiu a contratação, também, dos seus chegados – Jaime Sheperd, Thomas Crosbie, Estevão Clewley e John Pescoe Grenfell. Pra variar, viu navios repletos de problemas técnicos e soldados e marinheiros sem nenhuma disciplina. Pra piorar, Caldeira Brant escrevia a Zé Bonifácio, alertando-o de que só ficaria tranquilo quando os marinheiros ingleses fossem misturados aos portugueses.  
 Primeira missão de Cochrane: expulsar da Bahia a forte esquadra comandada pelo brigadeiro português Inácio Madeira de Melo. Partiu do Rio de Janeiro no 1 de abril e, sem mentiras, fez o que tinha sido pago para, mesmo encarando a sabotagem da portugada, que tudo fez para que os seus canhões não funcionassem.  Mas não adiantou. O 2 de julho virou o maior carnaval na Bahia, com Madeira de Melo e mais de 80 navios fugindo pra Portugal. A independência brazuca, porém, ainda não estava consolidada. Pará, Piauí e Maranhão ainda eram cartas fora do baralho.
... ao Zé Bonifácio, o homem que virou selo
 Ao Maranhão, quando a patota de Cochrane chegou,  a maranhada já havia botado a portugada pra correr. Só duas semanas depois soube-se que chegara. Libertou mesmo só a ilha de São Luís e a vila de Alcântara, o que ficou provado, tempão depois, por documentos pesquisados pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. 
De sua parte, o historiador Hermínio Conde o chamou por falso libertador, por tentar passar pelo tal, também, no Pará. Na verdade, comprovou Conde, o sujeito mandara pra lá o seu chegado Grenfell, pra espalhar a fakenews  de que uma tremenda força naval estava a caminho  de Belém. Assustada, a junta lusitana governativa virou a casaca, imediatamente.
 O Lorde Cochrane ajudou, é verdade, a aniquilar a Confederação do Equador, quiprocó contra o Império, nascida em Pernambuco e espalhada pelo Nordeste. Mas, ao voltar ao Maranhão e ser Comandante em Chefe Militar da Província, praticou várias arbitrariedades, depôs o governador Manuel Inácio Bruce, tentou arrancar altas granas do poder público maranhenses e emplacou um amigo no comando dos navios imperiais. Insatisfeito, roubou a melhor fragata brasileira, a Piranga, e se mandou pra  Inglaterra. 
 O Brasil até o perdoava, caso ele devolvesse o seu melhor navio. Como não o fez, demitiu, em 1827, o Primeiro Almirante da Armada Nacional e Imperial, e Marquês do Maranhão, este título ofertado “pelos  grandes serviços prestados ao país” – serviço melhor fizeram os seus descendentes, que cobraram do Império brasileiro grana altíssima, alegando soldos atrasados e comissões por presas de guerra. Pelo decreto 5.828, de 22.11.1874, não foi que o Imperador mandou pagar? 
O Brasil imperial era tão bonzinho! Ou o Imperador não anotava nada na caderneta.                         

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