Vasco

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sábado, 17 de outubro de 2020

O VENENO DO ESCORPIÃO - OS BLUE CAPS NA PRÉ-HISTÓRIA DO RAKENROU BRAZUCA

                           IMAGENS REPRODUZIDAS DE CAPAS DE DISCOS

Pelas metades da década-1950, o jovem brasileiro só ouvia aqueles bolerões, sambas-canções, guarânias e baladas românticas (com muita dor-de-cotovelo) que os seus pais ouviam, e não era bem aquilo que elds gostariam de ouvir. As suas pernas, braços e cintura pediam algo frenético, que pudesse fazê-los levantar da cadeira, saltar no meio do salão e se esbaldar, dançando. Foi quando pintou por estas terras brazucas o rockn´n´roll norte-americano, repleto de guitarras alucinantes.

Para os filhos do Seu Renato e da Dona Elair, animação melhor não poderia aparecer em sua casa, principalmente porque a mãe deles, colega de Dalva de Oliveira, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, lhes ensinava a tocar violão, mas cantando aquelas coisas. Por haver no bairro em que moravam um bloco carnavalesco chamado Bacaninhas, eles criaram o roqueiro Bacaninhas do Rock da Piedade, para impressionar as meninas namoradeiras, e deixaram de cantar (e tocar) o que mamãe mandava. Breve, gravariam Twist, o primeiro LP.

 Por ali, as emissora de rádio brasileiras já tocavam versões de sucessos made in USA e que agradavam à turma jovem da brazucada, como Diana, que Carlos Gonzaga gravou na esteira do sucesso de Paul Anka. Tempo aproveitado, também, por Nora Ney, representante da fina flor da hoje chamada sofrência, e por Lana Bitencourt, tirando um seu sarro com o rock. Imagine uma cantora de fossa (o termo da época), como a Nora, mandando ver o incendiário Rock around the clock, suceçaço de Bill Haley and The Comets. Até Cauby Peixoto, que concorria com Marlene e Emilinha Borba, quis ser Ron Cobby e entrar na nova onda. Mas o que gravou não passou de um calipso, o Rock em Copacabana.

 Para a moçada, não deixava de rolar um som mais legal do que o dos bolerões, mas eles, quase sempre, só o ouviam o rock em língua desconhecida (inglês), ou com covers brasileiros – The Playing e The Rebels, por exemplo – tirando onda de norte-americanos.  

Veio 1959, temporada em que Renato Barros considerou o ponto de partida de Renato e Seus Blue Caps, com formação mais definida, pois, pelos inicios da brincadeira, o grupo chegara a ter 11 membros. Enquanto ele e a sua turma imitava (na época, falava-se fazer mímica) os caras da hora, Fred Jorge, o “Rei das Versões”, entregou à interiorana paulista Celia Benelli, isto é, Cely Campello, a letra de Estúpido Cupido, o trepidante Stupid Cupid, cantado por Neil Sedaka e composto, pelo tal, em parceria com Howard Greenfield. No Brasil, a gravadora EMI-Odeon não botou muita fé naquela que seria a segunda gravação da mocinha – teve participação do irmão Sérgio “Tony” Campello – e a desprestigiou, colocando-a no lado B, aquele que entra no disco só para preencher espaço.   

                       Erasmo Carlos, em pé, acima, no centro, era o cantor 

 Mesmo com a pisada na bola, a Odeon vendeu horrores e fez de Cely rainha da música jovem brazuca, eleita pelos leitores da Revista do Rock. Já estava perto da chegada de Renato e Seus Blue Caps ao bloco dos reis da juventude, encabeçado, em 1961, por Sérgio Murilo, graças a uma Marcianita que poderia ser jovem, mas nunca roqueira. Quando nada, serviu, aqui na Terra,  para ele (e Cely) terem por súditos, entre outros, o topetudo Demetrius (Ritmo da Chuva/versão), imitando a cabeleira de Elvis Presley; Wilson Miranda (levando Long Tall Sally, de Little Richard, gravada em 1957); o alemão George Freedman (Advinhão) acontecendo por aqui via rock, genuinamente, nacional, de Baby Santiago, e Tony Campello, também correndo atrás do sucesso da irmã, que lhe deu uma forcinha levando-o para o seu lado na apresentação do programa Crush em Hi Fi, da TV Record-SP – em Smpa, a concorrência tinha Os Brotos Comandam, na TV Bandeirantes, e Alô Brotos, na Tupi. No Rio, Renato e Seus Blue Caps pegavam cancha em programa de TV comandado por Carlos Imperial, ainda, sem nenhuma perspectiva de sucesso.

 Ser rainha da juventude, no entanto, não pareceu fazer a cabeça de Cely Campello, que tirou a coroa, em 1962, saiu do sucesso e entrou para a cozinha, como falavam os críticos que não a perdoavam por trocar grande momento musical por casamento, com um contador comercial classe média baixa. Mas Cely queria aquilo, inapelavelmente, e até aceitou posar para a revista O Cruzeiro, servindo um cafezinho ao marido.

 Junto com o bolo (passado nos fãs, a bonequinha Cely ajudou a Bossa Nova a ocupar o seu espaço e, só em 1964, a música jovem reconsegui um grande sucesso, com  Ronny Cord, o antes Ronaldo Coedovil, trafegando pela badalad paulistana Rua Augusta, em musica composta, especialmente, para ele, pelo pai e musico Hervê Cordovil (?).

 Chegado 1965, Renato e Seus Blue Caps já estava ali na esquina, pronto para pegar embalo e chegar ao topo das paradas de sucesso, o que não havia conseguido com dois LP gravados antes, um deles, tendo Erasmo Carlos por cantor (crooner, na época). Antes de atingir o primeiro lugar das paradas de sucesso, por conta de uma “Manina Lina”, como exímio guitarrista, Renato criou solos jamais usados por aqui, em Splish, Splash, com a qual Roberto Carlos decolou para a glória. E com ele foi subir muito, muito mais durante o programa Jovem Gurda, da TV Record-SP.

 A partir dali – 1965 -, podia-se dizer que a moçada brazuca já poderia ir ao museu e pesquisar a pré-história da sua música jovem, aquela do tempo em que conjuntos como The Clevers (futuro Os Incríveis), The Jet Black (gravou LP, em 1963) e The Jordans, entre outros, faziam sucesso e os Blue Caps sonhavas com ele.   




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