Em 1961, o Concílio Vaticano II, que rolou até 1965, abriu as portas das igrejas católicas para a música popular. Em 1963, a juventude brasileira ouvia, pela primeira vez, a música dos Beatles, em LP trazido pela artista gráfica Bea Fleiter, carioca que estudava desenho, em Nova Iorque e, em 1962, assistira e adorara show, na alemã Hamburgo, dos rapazes de Liverpool.
Estava aberto o caminho para o iê-iê-iê dominar o gosto da brazucada. Nem só, no entanto, dos jovens, que só queriam namorar as mais lindas garotas de Ipanema. Nesse rolo se meteu, também, um pastor de almas que viu na novidade musical um bom meio de turbinar o seu pedaço de evangelização.
A
missa foi um escândalo e ganhou bom espaço na imprensa, principalmente porque o
(virado) padre pop (Balestieri)
tivera com ele, no altar, mais dois colegas de Curitiba, Emir Calluf e Euvaldo Andrade, este capelão da Base Aérea
local. O primeiro assustara o Vaticano,
levando a banda Os Águias para tocar adaptados (ao cristianismo) sucessos da onda jovem, o que o arcebispo
curitibano, Dom Manuel da Silveira Elboux considerou (missa&rock) atividade profana, e o segundo fora
repreendido pelo seu comandante, o Brigadeiro Peralva, por levar o iê-ie-iê pra
dentro da Ditadura.
O padre pop, com tal atitude, abriu
caminho para, em maio de 1967, um outro religioso da onda, o carioca padre
Antônio Curti, incentivar o conjunto “Os Átomos”, formado, inicialmente, por
Congregados Marianos.
Era,
mesmo, uma brasa, o frei Balestieri.
Em 1965, pioneiramente, ele colocou ar condicionado em sua igreja, um também
escândalo que ele diluiu, dizendo às beatas que quem gostava do calor era o diabo,
no inferno.
Diferentemente de todos os padres que se conheciam, Balestieri abominava esmolas em sua paróquia. Pregava que Deus deveria ter espírito empresaria, captar recursos - mais um escândalo. Sem ligar para críticas, danou-se a fazer comércio, com fábrica de azulejos, espaço para patinação e jogo de boliche, hotelaria, turismo, trady caompany, teatro de arena e até cinema, o Cine Pax, que marcou época em Ipanema e rolou até 1970, quando passou o seu último filme (À procura de Mister Goodbar) – o lugar é ocupado, hoje, pelo o Forum de Ipanema, ponto de moda para quem tem dinheiro sobrando.
O frei Balestieri tomou partido político, também, quando era uma grande figura de Ipanema (foto reproduzida de wikipedia). Fez discurso, dentro da sua igreja, contra a ameaça comunista e foi um dos que deram nome à Marcha da Vitória, em 2 de abril daquele turbulento - meia-quatro, no Rio de Janeiro, juntamente com o engenheiro Glycon de Paiva e o general Golbery do Coputo e Silva, apoiados por Amélia Molina Bastos, irmã do general Antônio de Mendonça Molina, da área de informação e contrainformação do Exército.
Em
São Paulo, a marcha fora pensada pelo deputado federal Antônio Sílvio Cunha
Bueno, do Partido Social Demodcdrático, inspirado nas pregações do padre
irlandês anticomunistas Patrick Peyton, fundador do movimento Cruzada do Rosário pela
Família. Ao pedir apoio ao empresário Laudo Natel (futuro govenrador paulista
nomeado pela Ditadura), Bueno foi recomendado a procurar a freira Ana de
Lourdes, neta de Ruy Barbosa, para arregimentar lideranças femininas. Ana
via ameaças ao catolicismo, no discurso do presidente João Goulart, mas
respondeu que não era com o “Rosário de Maria que se deveria combater as
ameaças à fé cristã”.
Se tivesse dito isso para o frei Balestieri, que apoiara a proposta carioca, no mínimo, ele a faria rebolar em seu teatro de arena. Afinal, mesmo sendo operador (político e comercial) de Deus, ele estava, sempre, pronto pra se reunir com o diabo e discutir algum tipo de investimento – se possível, ao som de Quero que vá tudo pro Inferno.
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