Uma das figuras mais interessantes do meu Rio de Janeiro era (ainda é, pois segue vivo) o garçom Arlindo, do Bar Garota de Ipanema (antigo Veloso), o cara que atendeu telefonema de Frank Sinatra, querendo falar com Tom Jobim. Ele sabia de tudo e da vida de todos, em Ipanema. Não que bisbilhotasse, mas porque a galera do bairro lhe contavam. De sua parte, só fazia ouvir e arquivar na memória.
De acordo com o
Arlindo, o "alemão" (na verdade, suíço, segundo
pesquisou o meu amigo jornalista Zildo
Dantas); bonitão; paqueradíssimo pelas gatas de Ipanema; doutor (na verdade, graduado em Desenho Industrial);
falava várias línguas (alemão, inglês
francês e português) e tinha o apelido de Vovô (por ser
loirão, com os cabelos parecendo brancos). Amigo de copo do Tom Jobim, quando
este foi para os Estados Unidos (em 1967,
gravar o LP Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim), enviou-lhe
um cartão postal, aos cuidados do Bar
Veloso (que já se chamava Garota de
Ipanema), pois jamais soubera onde o cara residia.
Arlindo, que já havia atendido telefonema de
Frank Sinatra, recebeu o cartão e juntou mais esta à sua coleção de histórias.
Pelo me contado, o Vovô esquecera-se do endereço do trabalho e só se lembrava da
mesa do bar em que bebia com os chegados de Ipanema. Demitido do emprego,
passou a viver de bicos. Lá pelas tantas, virou esmolé. Nesse ponto, Arlindo
ressalva que uma amiga de boteco tentou recuperá-lo, tirando-o das calçadas das
ruas. Mas não adiantou. Ele voltou pra lá, estendendo as mãos, pedindo dinheiro
pra rapazes e garotas que passavam à caminho da praia, onde dormia, muitas
vezes.
Foto que cliquei do Arlindo e a minha mulher, em 2011, diante
do Bar Garota de Ipanema, em 2011
Por aqui, entra a desmaravilhosa história do cara que, quando tocado sobre o tema, conversava como se fizesse conferência sobre mágicos das telas e da
arquitetura europeia. Andando descalço e com os pés inchados, um dia, em 1995, ele
apareceu na Praça Nossa Senhora da Paz, por lá deitou-se no chão e não acordou
mais.
Como o Arlindo não sabia do nome verdadeiro do
Vovô, pedi ao meu amigo jornalista Zildo Dantas, que morava perto de Ipanema,
pra tentar descobri-lo. E o Zildo o descobriu, conforme me disse, por uma crônica
do grande jornalista/pesquisador Ruy Castro. O alemão do Arlindo, tetrapoliglota
e proprietário de canudo de curso superior, chamava-se Raul Gunther Vogt. Não
encontrei nada sobre ele, vasculhando a Internet. Portanto, agradecimentos aos
Arlindo, Zildo Dantas e Ruy Castro.
OBS: no sábado 10. l10.2020 publiquei, aqui no VENENO, uma outra história de Ipanema me contada pelo Arlindo, sobre um padre que detestava esmolas e dizia que Deus tinha que se virar, ser empresário. Duca!
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