Vasco

Vasco

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O VENENO DO ESCORPIÃO. FOTÓGRAFO SEM FLASH SURPREENDE TITIO ADOLFO

                          Clima pré-golpe militar-1964 revelou astro do clic brasileiro


Pelos inícios da década-1960, o embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, conseguiu o apoio do presidente John Kennedy, dos Estados Unidos, para interferir nas eleições brasileiras e preparar o terreno para um golpe militar contra o presidente João Goulart

 Por ali, o garoto Orlando Abrunhosa arrumou vaga na revista Manchete como aprendiz de laboratório fotográfico, se esforçou para ficar e ficou, como laboratorista, revelando fotos de craques do clic, como Jáder Neves, Gil Pinheiro, Gervásio Baptista, Walter Firmo, que lhe acenderam o sonho de entrar para o time deles.

Por aquela época, usava-se muito câmeras de 35 milímetros que faziam as fotos perderem qualidade na ampliação. Abrunhosa, então, passou a estudar um jeito de melhorar o barato e descobriu que o problema era o excesso de grãos nos produtos químicos de revelação, principalmente nas fotos feitas em ambientes difusos, usando-se os ainda chamados flashes eletrônicos que encaravam bem a luz ambiente, mas comprometiam a naturalidade da imagem.

 Já como fotógrafo,  em certa inicio de noite, o colunista social da Manchete, Ibrahim Sued, foi chamar Gervásio Baptista para ir com ele ao um coquetel que o embaixador norte-americano  - Linconb Gordon – iria oferecer a empresários carioca. Pra fugir da pauta, o malandro Gervásio viu o Abrunhosa passando e sugeriu ao colunista levar o groto que estava começando e “ precisava de mostrar serviço” – o garoto adorou.

https://www.discogs.com/artist/2073131-Orlando-Abrunhosa

 Quando Gervásio Baptista viu o Abrunhosa pegando uma câmera Cannon 0,95 e não levando flash, falou pro cara:

 - Aqui tem câmeras Laica, Rolleiflex, Hasselblad, Sped Graf, com fotômetro Lunasix (última novidade) e você pega uma Canon sem, flash! Quer ser demitido?

 - Deixa comigo! Pelas minhas pesquisas, esta máquina, sem flash, me permite aproveitar melhor a luz ambiente –rebateu o Abrunhosa.

 - Bem! Já que você acha que é assim, foi um prazer trabalhar contigo. Amanhã, você estará na rua. Depois, não diga que eu não lhe avisei – disse o Gervásio.

 Rola o coquetel do embaixador Lincoln Gordone e, lá elas tantas, Ibrahim Sued chama o Abrunhosa pra clicar o  conspirador embaixador Lincoln Gordon ao lado de Adolpho Bloch, que não tinha a mínima informação de estar vivendo em estado de pré-golpe. Clics disparados, mais um tempinho depois, o Bloch, que os emprgados o chamnavam por "Titio", cruza com o Abrunhosas e o indaga:

 - Vocè é fotógrafo da Mancehete?

- Sim, senhor!  – respondeu o garoto.

- Tem certeza de que trabalha para a Manchete? – insistiu na pergunta.

-Sim, senhor – “refalou”, o rapaz.

- Você não usa flash à noite. Vai sair alguma coisa?

- Sim, senhor – era só o que consegui falar o Abrunhosa.

- Então, amanhã cedo, compareca à minha sala, levando todas as fotos feitas nesta noite. Se não ficarem boas, você tá fodido – ameaçou o "Titio" e, de quebra, mandou um forte beliscão no braço direito do garoto, que passou três dias sentindo o local dolorido.

 Conforme o ordenado pelo chefe, no dia e na hora marcada, o Abrunhosa apresentou as fotos. Adolfo Bloch ficou impressionado com o que viu eE ordenou aos seus fotógrafos que,  a partir de então, só se faria fotos noturnas em ambientes fechados sem flashes e com a Cannon.   

Veio o golpe militar de 1964 e, por ali, a Manchete, embora Adolpho Bloch, por debaixo dos panos, contribuisse com o ilegal Partido Comunista, comprou câmeras Nikon com motor que sequenciava fotos para acompanhar um novo tempo político. Se livrava das câmeras Robot, de 35 milimetros, movidas a corda e que faziam Jáder Neves esquecer de realimenta-las e deixar de registrar golaços no Maracanã.

 Adolpho Bloch teve muitos problemas com os militares no poder pós-1964, maais com a censura. Mas conseguiu tirar, de letra, todos os lances mais complicados. De sua parte, Orlando Abrunhosa crescia como fotógrafo. Em 1970, Gervásio Baptista iria cobrir a Copa do Mundo para Mahchete e Fatos & Fotos, quando surgiu proposta da Associatd Press para ele fazer o evento pela empresa. Adolpho, que gostava muito dele e viu que seria uma boa oportunidade para o seu empregado morder uma bela graninha, em dólares, o liberou e mandou trocar a credencial de cobertura para Orlando Abrunhosa.

 Era o 3 de junho daquele 1970, quando a Seleção Brasileira estreava no Mundial, enfrentando a então Tchecoeslováquia, no Estádio Jalisco, em Guadalajara. Gervásio e Orlando estavam juntos, muito perto um do outro, clicando o prélio. De repente, Gervásio teve de trocar o filme que havia acabado. Foi quando Pelé marcou gol e correu comemorando, exatamente, na direção onde só o Abrunhos estava com o dedo no clic. E fez a eleita mais bela foto daquela Copa do Mundo,  capa de Fatos & Fotos e que a francesa Paris Match comprou para também divinizar a sua edição.

 Orlando Abrunhosa, no entanto, quase perdeu a capa espetacular. Na época, ainda não havia telefoto na imprensa brasileira, que se virava com as velhíssimas radiofotos em preto-e-branco e de baixa qualidade para impressão em revistas. Saiu do estádio correndo e entregou os filmes ao repórter Carlos Moura, que se mandou, de moto, para o aeroporto da cidade, mas não conseguiu fazer o despacho. Então, pegou um avião para a peruana Lima, viajou  quatro horas e meia e, enfim, havia um voo para o Brasil, por meio do qual enviou os filmes por intermédio de um comissário de bordo.

 O filme com a foto espetacular do Abrunhosa chegou às mãos do editor Roberto Muggiati, exatamente, quado ele já ia finalizar o fechamento da edição. Um minuto a mais......! Tempos depois da Copa, bebendo um cafezinho com o colega, no restaurante da Manchete, o sempre sacanão Gervásio Baptista, caçoou:

- Lando (como chamava o Orlando): que sujeito mais sacana este tal de Pelé, hem! Não podia esperar eu trocar o filme, pra depois ele marcar o gol?

Nenhum comentário:

Postar um comentário