Vasco

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terça-feira, 10 de junho de 2014

O DIA EM QUE O "MANÉ" FEZ DE TUDO

 
No dia 21 de março de 1960, o Chile foi sacudido por um violento terremoto que atingiu 400 km do seu território, destruindo, desabrigando e matando. A FIFA chegou a estudar transferir o Mundial para um outro país, mas os chilenos cumpriram tudo o que prometeram. E, em 30 de maio de 1962, a seleção chilena pisou no gramado do Estádio Nacional de Santiago, abrindo a competição e vencendo a Suíça, por 3 x 1, pela mesmas fórmula usada em 1958, exceto na classificação da primeira fase, que privilegiava a equipe com o melhor saldo de gols, em caso de empate.
A Copa do Mundo de 1962 foi a consagração de Mané Garrincha, com uma Seleção Brasileira quatro anos mais velha. Os titulares eram os mesmos de 1958, exceto Orlando, que perdera a vaga, para Zózimo, porque estava jogando pelo argentino Boca Juniors – na época, só se convocava quem atuava no país –, e Mauro – barrara Bellini, porque o capitão na Suécia não agradara ao técnico Aimoré Moreira, nas vitórias sobre os paraguaios – 2 x 0, em 30.04.1961, e 3 x 2, em 03.05, ambas pela Taça Osvaldo Cruz.
Em 7 de maio, nos 2 x 1, sobre o Chile, pela Taça O´Higgens, Aymoré Moreira – tornara-se o treinador devido problemas de saúde com Vicente Feola – entregou a zaga central a Mauro, que a segurou em Brasil 1 x 0, em 11.05.1961. Abatido pela barração, Bellini declarou que, na reserva, não sentia mais prazer em estar na Seleção. Pegou mal, muito mal. Ele até foi titular e capitão, ainda, em dois jogos pela Taça Osvaldo Cruz, nas goleadas – 6 x 0, em 21.04.1962, e 4 x 0, em 24.04, sobre o Paraguai – e em um amistoso – 2 x 1, em 06.05, contra Portugal. Além da troca de Feola, por Aymoré, e do capitão, uma outra mudança ocorreu na comissão técnica. Saiu o psicólogo João Carvalhaes, aquele que, em 1958, considerara Garrincha maluco, entrando Ataíde Ribeiro, em seu lugar.
 O  SHOWZAÇO DO MANÉ   Seguramente, foi nos 3 x 1 sobre os ingleses que Garrincha (foto) se excedeu naquela Copa de 62. Mas não for fácil para o Brasil chegar até aquele dia. Logo na estreia, em 30 de maio, no Estádio Sausalito, em Viña del Mar, começou a perder Pelé, com uma distensão muscular, dor na virilha, que atingiu o clímax quando o camisa 10 chutou a gol, aos 25 minutos do 0 x 0 com a então Tcheco-Eslováquia, em 2 de junho. Perdia-se o “Rei”. Que mau! Mas estava escrito que aquela seria a Copa do Mané. Pra começo de conversa, o “Torto” já começara a aparecer no lance do primeiro gol contra os mexicanos. Livrara-se de Najera e lançara Pelé, que dera um toque na bola, à meia-altura, para Zagallo abrir o caminho do bi – Pelé fez o outro gol.
Antes daquele jogo, um incidente: Aymoré Moreira tentara devolver a zaga central à Bellini, tendo em vista que Mauro andara vacilão na estréia. Mauro, no entanto, reagiu, ameaçando ir embora, caso fosse barrado. E o time terminou sendo repetido no segundo jogo.
Copa vai, Copa vem, de repente, a seleção canarinha estava diante do terceiro grande problema, depois da contusão de Pelé e do “Caso Mauro”: a inferioridade no placar, em 6 de junho, ante os espanhóis. Se o árbitro não tivesse deixado de marcar um pênalti, cometido por Nilton Santos, dificilmente, Garrincha chegaria ao seu brilho máximo diante da Inglaterra, em 10 de junho. Ainda bem que Amarildo virou o placar e a Espanha foi passada pra trás: 2 x 1. Vale ressaltar que, no gol da virada, foi o Mané quem cruzou, da linha de fundo, para o “Possesso” cabecear para a rede.
Com a vaga garantida nas quartas-de-final, viera a grande tarde de domingo, em Sausalito, de onde os brasileiros não saíram, por terem sido os primeiros do se grupo, enquanto os britânicos foram os segundos no deles. Rolou a bola. Como a seleção de Aymoré Moreira mostrava-se muito enrolada, a partir dos 31 minutos do primeiro tempo, Garrincha resolveu acontecer. Chamou as responsabilidades para si. E abriu o plalcar, de forma inacreditável. Durante uma cobrança de escanteio, saltou junto com o grandalhão Norman, que era 12 centímetros mais alto, e conseguiu cabecear a bola para a rede. Os ingleses empataram, aos 36 minutos, por intermédio de Hitchens, mas, por aquilo, pagaram caro.
Após um primeiro tempo empatado, por 1 x 1, aos oito minutos da etapa final, Didi preparava-se para cobrar uma falta, pela direita, pertinho da grande área. Sem que ele pudesse imaginar, surgiu um moleque Garrincha à sua frente. E mandou o pé na pelota. O goleiro inglês Springett rebateu a bola para a frente, na cabeça de Vavá, que não o perdoou: 2 x 1. Aos 14, Garrincha viu o camisa um inglês adiantado e chutou, quase da intermediária, por cobertura: 3 x 1. Golão!
IUNOVAÇÕES - Cabeçada, chute por cobertura, cobrança de falta, normalmente, Garrincha não fazia nada daquilo, no Botafogo. De normal mesmo só ele dizer que não tinha medo do tal de “Fralda”, referindo-se a Flowers, o lateral que iria marcá-lo e que prometia sumir com ele do jogo. Naquele dia, porém, o Mané, que esteve “indomável”. Só não conseguiu dominar um cachorrinho preto (foto) que invadiu o gramado, antecipando-se às diabruras que ele iria aprontar. Depois de driblar o “Demônio da Copa”, o cãozinho só foi capturado quando o inglês Jimmy Greaves ajoelhou-se à sua frente e os dois ficaram olhos nos olhos, se namorando. Num bote rápido, o atacante fez o que Mané Garrincha não conseguira, único pecado do “Demônio das Pernas Tortas”.
O SHOW TEVE DE CONTINUAR - O jogo em que o Brasil venceu o Chile, por 4 x 2, em 13 de junho, pelas semifinais, pareceu a continuação dos 3 x 1 sobre a Inglaterra. Garrincha repetiu o baile dado nos ingleses. Aos 9 minutos, Zagallo chutou, a bola bateu em Amarildo e em Vavá, e sobrou para o “Torto” pegar, de canhota. O espírito do jogo contra aos ingleses já estava lhe baixando, novamente. E aquele gol era outra novidade, pois ele nunca chutava de esquerda.
O raio estava caindo, pela segunda vez, no mesmo lugar. Aos 32 minutos, Garrincha aprontou outra. Zagallo cobrou escanteio e ele subiu no meio da zaga, para cabecear e marcar: 2 x 0. No segundo tempo, aos dois minutos, Mané cobrou escanteio, Vavá cabeceou e o Brasil voltou à rede. O mesmo Vavá, aos 32, fechou o placar em 4 x 2. Pena que, aos 42 minutos, Mané tivesse sido expulso (foto) de campo, dedurado ao árbitro peruano Arturo Yamazaki, pelo auxiliar de arbitragem uruguaio Esteban Marino, que o acusara de agredir o lateral chileno Rojas. No meio da confusão, quando saía de campo, Mané levou uma pedrada, na cabeça, que teve de ser enfaixada. (foto).Em 17 de junho, o Brasil estava na final, contra a Tcheco-Eslováquia, com uma defesa carregando nas costas a média de 32 anos de idade – Nílton Santos estava com 37. Sem Pelé com Garrincha ardendo a 38 graus de febre, os canarinhos sofreram um gol, aos 15 minutos. Dois minutos depois, Amarildo, de 21 anos, o substituto de Pelé, empatou, e o primeiro tempo ficou por aquilo. Na fase final, Zito, aos 23, e Vavá, aos 32, garantiram o bi: 3 x 1.
FICHA TÉCNICA
Brasil 3 x 1 Inglaterra. Local: Estádio Sausalito, em Viña del Mar. Público: 17.736 pagantes. Árbitro: Pierre Schwinte-FRA. Gols: Garrincha, aos 32 e Hitchens, aos 39 min do 1º tempo; Vavá, aos 9, e Garrincha, aos 14 min do 2º tempo. BRASIL Gilmar: Djalma Santos, Mauro, Zózimo e Nilton Santos: Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo. Técnico: Aymoré Moreira. INGLATERRA: Springett; Armfield, Wilson, Morre e Flowers; Norman, Douglas e Hitchens; Haynes, Greaves e Bobby Charlton. Técnico: Walter Winterbottom.
                                                                           O CARA
Manoel Francisco dos Santos (Garrincha). Nascimento: 28 de outubro de 1933, em Magé-RJ. Viveu até: 20 de janeiro de 1982. Altura: 1,67m. Jogos disputados: 716. Gols marcados: 283. Títulos pela Seleção Brasileira: Copas do Mundo de 1958 e 62.
 
 
 





 

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