Em 2004, quando a Seleção Brasileira comemorava 40 anos da conquista do tri, no México, o ex-ministro Jarbas Passarinho concedeu-me esta entrevista, para o "Jornal de Brasília". O início da década-1970 ainda era
marcada pela luta entre o governo militar do general Garrastzu Médici e a
guerrilha urbana, os chamados subversivos, que chegavam a seqüestrar
embaixadores. Falou-se muito que o presidente usava o futebol para promover o
seu governo e que conquistar a Copa do Mundo era um imperativo para o Palácio
do Planalto. O ministro da Educação, Cultura e Desportos da época, o coronel
Jarbas Passarinho, voltou ao passado e relembrou do que jurava ter sido
verdade e o que virou lenda. Confira o bate-papo.
JBr – A Seleção Brasileira
estava em crise, durante os preparativos para a Copa -70, no México. Com
ministro da Educação, Cultura e Desportos, é verdade que o senhor prometera
cobrar explicações da Confederação Brasileira de Desportos (CBD)?
R - Havia críticas à Seleção, por todo o País, e
isso preocupava a todos nós. Falei com o presidente da CBD, o João Havelange,
que o (Garrastazu) Médici (presidente da República) interessava-se muito pelo
tema e que era preciso uma providência. O presidente gostava tanto de futebol,
que acompanhava jogos com o radinho de pilha colado aos ouvidos. Enfim, o
ambiente estava muito conturbado, com o João Saldanha municiando a imprensa,
após ter sido trocado pelo Zagallo.
P – Como ministro
responsável pelos desportos, durante
Copa-70, o senhor acompanhava os jogos junto com o presidente?
R – Não. Só estive junto
com ele nesses momentos quando fomos a um jogo do Flamengo, no Maracanã. Fiquei
preocupado com a possibilidade de alguma manifestação desagradável a ele,
porque o governo, naquele momento, enfrentava a guerrilha urbana. Quando o
locutor do estádio anunciou a sua presença, as minhas pernas tremeram. Mas o
que aconteceu foi muitos aplausos e nenhuma vaia.
P – Está escrito em vários
livros e revistas que o presidente Médici tinha a obsessão de legitimar o seu
mandato pelo apoio popular e que isso passava pela Seleção Brasileira trazendo
o tri do México...
R – O presidente não tinha
tal obsessão. Naturalmente, seus assessores, sim. Ele tinha grande
popularidade, não precisava daquilo. Fui testemunha do clamor do povo em torno
dele, em São Paulo ,
e no Pará, durante a sua maior festa religiosa, o Círio de Nazaré.
P - É verdade, como saiu, recentemente, em um
livro, que o presidente Médici, para popularizar o seu governo, telefonou aos
jogadores da Seleção, após a vaga na final da Copa (vencendo o Uruguai, por 3 x
1), incitando-os à vitória sobre a Itália, na final?
R - Eu jamais soube disso e duvido. Acho uma
maldade escreverem que o presidente precisava disso para popularizar seu
governo. Ele teve contato com o brigadeiro Jerônimo Bastos, que lhe foi levado
pelo Havelange, quando eu o convidei para presidir o CND.
P - No dia em que a Seleção passou à final da
Copa do Mundo (17.06.1970), o governo do general Médici trocava 40 presos
políticos pelo embaixador alemão Von Holleben. Falou-se que os jogadores da
Seleção condenaram o ato, lá do México...
P – Foi amplamente
divulgado que o presidente Médici dera o palpite de 4 x 1 para o Brasil no
placar da final da Copa. Foi mesmo?
R – Eu perguntei ao
presidente porque ele havia apostado em um placar tão alto numa final de Copa
do Mundo, e ele me respondeu: ‘O meu palpite seria 2 x 1, mas, partindo de
alguém que conhecia bem, acompanhava o futebol (fora atacante juvenil do
Bagé-RS), palpitar um placar apertado daria a entender que o presidente da
república não tinha confiança na sua seleção. Então, aumentei pra 4 x 1 .
P - Havia muito, nos jornais, fotos do presidente
com o radinho de pilha, acompanhando o futebol. Ele discutia, também, com os
amigos mais chegados, sobre jogos?
R - Me lembro que, nas segundas-feiras, eu e o
ministro Leitão de Abreu costumávamos comentar com ele sobre as vitórias e
derrotas do Grêmio e do Flamengo, os seus dois times prediletos. Coisas mesmo
de torcedor – Jabás Passarinho, antes de ser militar, foi atacante juvenil do
paraense Clube do Remo.
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