Vasco

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sábado, 15 de julho de 2017

KIKE EDITORIAL-33 (O VENENO DO ESCORPIÃO) - LEITOR PÓS-MODERNO

  Antes da Semana de Arte Moderna, que rolou em 1922, os escritores e poetas brasileiros obrigavam os seus leitores a recorrerem ao dicionário, se quisessem entender o que eles madavam. Imitar os colegas portugueses era preciso. Infidelidades, jamais. E enchiam as suas linhas escritas com lábaros estrelados, indivíduos hartos, latagões com músculos retesos, almas daroesas e sons cambariçus, entre outras "ridiculices".
Cruzmaltinamente, Raquel!
 Com os pós-modernos, veio a proposta de escrever  pelo estilo das reportagens das revistas e dos jornais, dispensando-se a obrigatoriedade de domínio do idioma. Estavam todos liberados aos solecismos primários e aos cacófatos capazes de espantar raios e dragões. Deficiência de técnica deveria ser compensado com graça instintiva. Que gracinha!
 Os intelectuais pré-modernistas tinham um inimigo comum quando pegavam na pena: a colocação dos pronomes. Para o homem que virou sinônimo de dicionário, Aurélio Buarque de Holanda, o conhecimento gramatical não é uma obrigação, mas um meio de enriquecimento de quem usa, assiduamente, o livrinho. Ele reconhecia a legitimidade das transformaçõe sofridas pela língua portuguesa no Brasil, por entender que ela pertence a quem a usa, e não aos gramáticos  que a regulamenta, mesma opinião de Antônio Cândido de Carvalho, que fazia o que queria com as palavras.
 Raquel de Queiroz tinha horror do uso inadequado de palavras e do emprego frequente delas por quem confundia homônino ou parônimo. Os jornalistas atuais jogam nesse time. Por lerem somente a pauta, não desenvolvem vocabulário. Pior:  desconhecem que verbo intransitivo não aceita passivo. Quem ouvir notícia sobre saúde ficará com os oritimbós exauridos pela repetição de um substantivo essencial ao tema.
Oritimbós? Sim, oritimbós! Se você não é um filólogo e não deseja apresentar-se como um sujeito obnubilado, então vá ao dicionário. E sinta o quanto os intelectuais pré-modernista, pró-lusitanistas,  davam trabalho ás suas "vítimas" – há 95 temporadas, o que os jornalistas de  hoje não conseguem fazer com os leitores prós-modernistas.               

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