Só estive perto de Maradona em uma só vez: em 1988, quando ele disputou a fase preliminar da Copa América, em Goiânia. Mas esta história começa em janeiro de 1976, quando José Bonetti foi enviado, por João Havelange, presidente da FIFA, para tomar conta da garotada que disputaria o Campeonato Sul-Americano de Juvenis, se não me engano, no Paraguai ou na Argentina. “Aquela garotada me dava um trabalho danado, todos bagunceirinhos”, contou-me o Bonetti, temos depois, em entrevista para o Jornal de Brasília.
Por conter muito as bagunças do Dieguito, um argentino que foi a grande revelação da disputa, Zé Bonetti tornou-se o Tio Pepe do garoto, com o qual desenvolveu boa amizade pelo restante do tempo em que ele foi o principal assessor de Havelange – era parente da mulher do cartolão.
Bonetti, integrante do grupo que trabalhou para o tri no México, após dar baixa do cargo de major do Exército, instalou-se em Brasília, trabalhando para a antiga Radiobras. Quando Havelange precisava dele, pedia e o Governo militar brasileiro o liberava. Foi assim naquele 1988, quando ele foi comandar trabalhos para a Copa América, competição oficial do calendário-FIFA/Confederação Sul-Americana de Futebol.
Era um sábado e jogariam Argentina x Uruguai, no Estádio Serra Dourada. À época, os jornais brasilienses cobriam competições internacionais comprando os serviços de texto e fotos vendidos por agências de notícias. Então, chamei o fotógrafo Sebastião Pedra para irmos à Goiânia, cobrir o jogo, levando as nossas mulheres para passearem pelos shoppings da cidade, enquanto nós pagávamos para trabalhar, por sermos loucos por futebol. O problema era que não tínhamos credenciais. O de menos, pois o Zé Bonetti providenciou isso, fácil.
Credenciais no bolso, pedi ao Maninho (como ele chamava os amigos e ficou apelidado )pra me arrumar uma entrevista com o glorioso Don Diego Armando Maradona. “Maninho, você quer agora, ou depois do jogo?”, ele indagou e eu respondi que, se possível, pra ontem, pois pretendia fazer uma página inteira com o papo no jornal do domingo.
O Zé Bonetti bateu um fio para o ap do Don Diego, este desceu pelo elevador do Hostel Castro e nos encontrou, gritando ‘Tio Pêpe!”, ao ver o velho amigo, que pediu aos repórteres argentinos para se afastarem, prometendo que, depois, “El Diez” falaria com eles. O Zé Bonetti apresentou-nos ao craque e nos levou para um salão, onde eu faria a entrevista. Durante a caminhada para o local, nos encontramos com o Hugo Maradona (irmão do Diego e também convocado pelo treinador Carlos Bilardo para a seleção portenha) e com também argentino (naturalizado espanhol) Don Alfredo Di Stefano, considerado um dos cinco maiores craques da história do futebol e que trabalhava como comentarista de uma TV de Madrid.
O Zé Bonetti os convidou e os dois a seguirem conosco para a sala onde ficaríamos. Formamos um círculo e ficamos conversando, preliminarmente, enquanto ele providenciava cafezinho e água. Ao perceber que, enquanto batíamos um plá, a minha mulher, que ele chamava por Dona Mara, estava entre o Hugo e o Diego, saiu cometa: “Dona Mara e seus dois Maradona”. O craque ouviu, sorriu e exclamou “Pressupuesto que si, non: Dona Mara e los dos Maradona”.
O Pedra sacou foto do instante, que foi publicada por uma das colunas do Jornal de Brasília, com a minha mulher abraçando os dois irmãos. Depois, fez duas outras quando eu entrevistava “El Diez”. E, é claro, muitas outras imagens do jogo em que Maradona armou um passe genial para Caniggia fazer Argentina 1 x 0 Uruguai.
Ainda não havia telefone celular, mas conseguimos apanhar as nossas mulheres, no horário combinado, à saída do Flamboyant Shopping. Por volta das 21h30 já estávamos em Brasília e fomos escrever (eu, a matéria) e revelar (ele) as fotos. Saímos com uma página inteira no domingo, pra inveja da concorrência – graças ao Zé Bonetti.
No momento em que eu escrevia esta coluna, a minha mulher, que é índia kaiyabi, indagou se eu abordava a pior notícia deste 25 de novembro de 2020. Respondi que sim e ela pediu pra mandar este recado, que aqui transcrevo: “Maradona, aqui é a Dona Mara. O Grande Espírito da Luz estava precisando de um Camisa 10, em seu time, e lhe convocou” – escrever mais o quê?
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