Antigamente, havia um ditado na Bahia-Oeste,
dizendo: “Quem tem de ser, já nasce”. Caso do intelectual Hildon Rocha. Aos 14
de idade, atento ao rádio, acompanhava discursos de Batista Luzardo, Otávio
Mangabeira, João Neves da Fontoura, Maurício Lacerda e dos candidatos
presidenciais José Américo de Almeida, Armando Sales de Oliveira e Plínio
Salgado. Andava ligadíssimo.
Corria 1937 e o garoto Hildon, que já gostava
de usar cabelos compridos, como os do “beatle” John Lenon – agradava-lhe
ouví-lo dizer que sorria e representava, mas, por trás da máscara de um palhaço,
havia um rosto sério – não perdia oportunidade solene para discursar, passar o
que gostaria de que todos ouvissem.
Aos 16, Hildon era
requisitado por jornais de Barreiras, Xique-Xique e de Juazeiro, e teve sonetos
publicados pela revista carioca “Fon-Fon”. Aos 19, seu conterâneo barreirense Antônio
Vieira de Melo levou-o para o Rio de Janeiro e, logo, ele estava escrevendo
para para “Vamos Ler”. Tempo em que fez amizade com os intelectuais que ferviam
nas panelinhas literárias da capital do país, entre eles Agripino Grieco,
Guilherme Figueiredo, Marques Rebelo, Josué Montello, Araújo Jorge, Heráclio
Sales, João Cabral de Melo Neto, Vinícius de Morais, Fernando Sabino,
Graciliano Ramos, José Lins do Rego e
Jorge Amado.
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Hildon Rocha em foto do álbum de família de sua sobrinha Cléa Rocha |
Encontrando-se, diariamente, com aquela
rapaziada, Hildon Rocha não precisou de faculdade de Letras. Nos papos, nos cafés
da moda – Amarelinho e Vermelhinho –, aprendeu tudo para escrever o seu
currículo com, pelo menos, 10 livros consagrados, como Os Polêmicos, Entre Lógicas e Místicos e Antologia Poética de Castro
Alves.
Em 1946, Hildon tornou-se repórter político.
Na Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados, aprendeu – também, sem precisar
de faculdade –, o essencial do Direito Constitucional, convivendo com Afonso
Arinos, Vieira de Melo, Plínio Barreto e Agamenon Magalhães. Rápido, o seu talento valeu-lhe
convites para ser redator de comissões e de gabinetes parlamentares.
Em 1951, Hildon
passou a escrever a coluna “Homens e Obras”, no diário carioca “A Noite”, por
quatro temporadas. Também, colaborou com os suplementos literários de Correio da Manhã. Diário de Notícias, Jornal do Brasil e O Estado de São
Paulo.
Ao
barreirense Hildon Rocha, o teatrólogo
Nélson Rodrigues ficou devendo a liberação da peça “Perdoa-me por me traíres”.
Foi dele a ideia de procurarem o bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Hélder
Câmara, religioso moderno, fazia um programa na Rádio Globo e, depois, ia ao
botequim da equina beber um cafezinho e papear com os jornalista. Pois Don
Hélder convenceu o arcebispo Dom Jaime de Barros Câmara de que a peça nada
atentava contra posturas da Igreja Católica. Ao contrário, condenava o aborto.
No embalo, o governador Negrão de Lima, o “dono” do Teatro Municipal, também aceitou
a ideia. De quebra, a casa ficou lotada, por 10 dias. Fez tanto sucesso que,
depois daquilo, passou mais dois meses
em cartaz, no Teatro Carlos Gomes.
Quanto ao texto da
peça, isso é assunto para uma futura crônica. O fato que o gerou foi
presenciado pelo garoto Nélson Rodrigues, na rua em que ele morava, no Rio de
Janeiro.