Vasco

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quarta-feira, 6 de abril de 2016

BELAS NA ESPORTIVA - FERAS DE ARAGUARI

O futebol era proibido, por lei, às mulheres que viviam no Brasil do governo do presidente Getúlio Vargas. As vezes, elas rolavam uma bolinha, em circos, ou em uma quadra de futsal. Mas não iam muito longe. Mas, de bola aqui, de bola ali, enfim, surgiu um time organizado. O país já se livrara do repressivo "Estado Novo" de Vargas e vivia os dourados anos 1958, quando o presidente Juscelino Kubitscheck construía uma nova capital, Brasília. Realmente, novos tempos. Tanto que já fabricávamos automóveis e havia muita democracia.
Já que os tempos eram outros, foi na terrar do JK, nas Minas Gerais, que surgiu o primeiro time brasileiro feminino de futebol, de forma organizada. Chamou-se Araguari Atlético Clube, para divulgar o nome da cidade, e começou a se exibir pelos meados de 1958, a temporada em que a Seleção Brasileira foi buscar a Taça Jules Rimet, na Suécia, o seu primeiro caneco mundial.
Formado o grupo, reunindo 22 meninas e despertando muita curiosidade dos marmanjos, a notícia chegou até o Rio de Janeiro, a então capital nacional e de onde partiam todas as modas. Sabedora da novidade, “O Cruzeiro”, foi conferir, ligada no sucesso de uma partida beneficente das gatinhas. Resultado: as meninas terminaram pintando na capa da revista de maior circulação nacional, que tirava, normalmente, 500 mil exemplares semanais. Divulgadas por uma prestigiosa publicação carioca e com curiosidade masculina aumentada, as garotas de Araguari decolaram para voos mais rasantes. Foram mostrar as suas asas de "anjos da pelota" na capital mineira, em Goiânia e em Salvador.
Depois que a magazine dos “Diários e Emissoras Associados”, liderados por Assis Chateaubriand, mostrou ao Brasil o que rolava nos campos de futebol de Araguari, uma outa revistas carioca correu atrás da pauta: A “Manchete Esportiva, do grupo Adoph Bloch, dispensando duas páginas e três fotos, as que você vê. Disse o texto: “Há muito não via o Estádio Independência (em Belo Horizonte) tanta gente ocupando ao seu cimentado (arquibancadas). Não havia claros e, curioso, lá estava um público diferente”.
Embora o governo do presidente JK fosse democrático, a lei que proibia o futebol às mulheres ainda não havia sido revogada. Então, rolaram rumores de que o Conselho Nacional de Desporto (CND) proibiria a exibição das meninas do Araguari, em “Belô”. Mas ficou nos boatos. “...valeu a pena...Toda aquela multidão que se comprimia no maior estádio de Minas saiu satisfeita ao término dos cinquenta minutos... jogados dois tempos de 25. Ninguém ficou decepcionado com as garotas...embaixadoras do futebol feminino”, afirmou a “Manchete Esportiva”, acrescentando, de forma poética: “O espetáculo valeu pela graça com que  (elas) procuraram enfeitar as jogadas, com dribles curtos, usando, sistematicamente, os finos calcanhares, chutinhos delicados, como que não querendo magoar a pelota, que também é feminina... marcaram três tentos, todos eles de autênticos lençóis tão bem confeccionados que dir-se-iam de linho e trabalhado a ponto de cruz ou de sombra.”
Além de embaixadoras do futebol para mulheres, as gatinhas de Araguari mostram-se, também, "expert" em diplomacia e marketing: as 22 atletas usaram as camisas dos dois maiores times das capital, o Clube Atlético Mineiro e o América Futebol Clube, com o primeiro vencendo, por 2 x 1, dom dois gols de Wislena, descontando Neli.
O prélio foi promovido pelo departamento de esportes (ainda não se falava editoria) do jornal “Diário da Tarde” e as meninas que representaram o “Galo” foram: Eleuza (a mais paquerada e com duas fotos destacadas pela “Manchete Esportiva”); Zalfa e Marizete. Luci, Heloísa e Iracema; Haidê, Iraídes, Eulália, Wislena e Jane. As “americanas” eram: Leni, Darci e Ormenzinda; Nilza, Geni e Maria; Genilberte, Dolaci, Neli, Fili e Nádima.
O juiz foi Luís Teixeira, que acompanhava as meninas, e os bandeirinhas, da Federação Mineira de Futebol, Alcebíades Magalhães, o “Cidinho Bola Nossa”, que, na dúvida, decidia, sempre, em favor dos atleticanos, e Paulo Sanches.    
Mas ao time feminino do Araguari Atlético Clube não demorou muito pelos gamados. Um ano depois, por pressão da Igreja Católica Apostólica Romana, foi obrigado a pendurar as chuteiras.

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