Estilização da ceifadeira por https://www.leme.pt/magazine |
O assassino, o tenente João Tomaz Carrajola, que a alvejou, com três tiros,
quando ela estava caída, agredida por um dos guarda, foi inocentado.
O processo que livrou a cara do monstro, por conta de “disparo acidental de arma”, desapareceu, misteriosamente, e só
reaparecendo, em 2016.
Catarina Efigênia Sabino Eufêmia, a vítima, nasceu
no 13 de fevereiro de 1928, em Monte Olival, e a monstruosidade se deu em
Baleijão, quando ela criava três filhos, um deles de oito meses.
Ícone, no Alentejo, da
resistência ao regime ditatorial salazarista, ela era filha de
trabalhadores agrícolas e, garotinha, já dava o duro em casa. Por conta disso,
não teve tempo para frequentar a escola. Adolescente, foi trabalhar na agricultura.
Aos 17, casou-se, com um operário.
Reprodução de capa de livro |
No dia do protesto em que
Catarina foi, covardemente, assassinadas, nove dos seus colegas foram presos,
julgados e condenados a 720 dias de prisão.
Seu corpo foi enterrado na
aldeia de Quintos e os seus ossos só transferidos para Baleizão após a
Revolução de 25 de abril de 1974, dez temporadas depois que o seu algoz não
estava mais vivo.
Carrajola chegou a ser ouvido, pela
Segundo Tribunal Militar Territorial de
Lisboa. Uma farsa! A sessão, presidida por um coronel, começou às 14 horas e,
pelo final da tarde, a sentença já estava publicada.
Incrível! Não houve testemunhas. Só
identificou-se o réu e foram lidas as poucas peças processuais, algumas saídas
de interrogatórios em meio militar, que produziu uma Catarina Eufêmia “excessivamente
politizada, instigadora, truculenta e extremamente perigosa”.
Na realidade, imagem deturpada da
ceifadeira, para justificar a atitude do Tenente Carrajola. Não há provas concretas de que ela tenha sido militante do Partido
Comunista de Portugal, embora o seu marido tivesse ligações com os caras. Só se
comprovou que ela combatera a ditadura do salazarismo, distribuindo jornais
clandestinos.
A moça e o monstro reproduzidos de Livros Ultramar - Guerra Colonial |
Catarina ganhou estátua,
nome de parque e de ruas e largos em várias cidades portuguesas. No
entanto, vem passando por um progressivo esquecimento do seu povo,
principalmente da nova geração, que desconhece a sua luta contra o cruel Estado
Novo do ditador Oliveira Salazar.
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