Vasco

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domingo, 19 de julho de 2020

O DOMINGO É UMA MULHER BONITA - A ANALFABETA QUE ENFRENTOU SALAZAR

Estilização da ceifadeira por
 https://www.leme.pt/magazine
  Os calendários do dia-a-dia português deveriam desaparecer com a data 19 de maio. Nela, em 1954, a Guarda Nacional Republicana, do ditador Oliveira Salazar, assassinou, brutalmente, uma trabalhadora rural, ceifadeira, de 26 de idade, durante manifestação por aumento salarial e melhores condições de trabalho. 
O assassino, o tenente João Tomaz Carrajola, que a alvejou, com três tiros, quando ela estava caída, agredida por um dos guarda, foi inocentado.
 O processo que livrou a cara do monstro, por conta de “disparo acidental de arma”, desapareceu, misteriosamente, e só reaparecendo, em 2016. 
Catarina Efigênia Sabino Eufêmia, a vítima, nasceu no 13 de fevereiro de 1928, em Monte Olival, e a monstruosidade se deu em Baleijão, quando ela criava três filhos, um deles de oito meses. 
Ícone, no Alentejo, da resistência ao regime ditatorial salazarista, ela era filha de trabalhadores agrícolas e, garotinha, já dava o duro em casa. Por conta disso, não teve tempo para frequentar a escola. Adolescente, foi trabalhar na agricultura. Aos 17, casou-se, com um operário.
Reprodução de capa de livro
 No dia do protesto em que Catarina foi, covardemente, assassinadas, nove dos seus colegas foram presos, julgados e condenados a 720 dias de prisão. 
Seu corpo foi enterrado na aldeia de Quintos e os seus ossos só transferidos para Baleizão após a Revolução de 25 de abril de 1974, dez temporadas depois que o seu algoz não estava mais vivo.
Carrajola chegou a ser ouvido, pela Segundo Tribunal Militar Territorial de Lisboa. Uma farsa! A sessão, presidida por um coronel, começou às 14 horas e, pelo final da tarde, a sentença já estava publicada. 
Incrível! Não houve testemunhas. Só identificou-se o réu e foram lidas as poucas peças processuais, algumas saídas de interrogatórios em meio militar, que produziu uma Catarina Eufêmia “excessivamente politizada, instigadora, truculenta e extremamente perigosa”.
Na realidade, imagem deturpada da ceifadeira, para justificar a atitude do Tenente Carrajola. Não há provas concretas de que ela tenha sido militante do Partido Comunista de Portugal, embora o seu marido tivesse ligações com os caras. Só se comprovou que ela combatera a ditadura do salazarismo, distribuindo jornais clandestinos.
A moça e o monstro reproduzidos de
 Livros Ultramar - Guerra Colonial
 Catarina ganhou estátua,  nome de parque e de ruas e largos em várias cidades portuguesas. No entanto, vem passando por um progressivo esquecimento do seu povo, principalmente da nova geração, que desconhece a sua luta contra o cruel Estado Novo do ditador Oliveira Salazar.

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