Vasco

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sábado, 23 de janeiro de 2021

REVISTA DO KIKE - Nº 3 - A COR DO PECADO

Desde que a mulher chutou uma bola de futebol, pela primeira vez, no Brasil, o homem fez cara feia pra ela, por achar que aquilo era coisa só dele. A atitude, correspondida pelo Estado comandado pelo presidente Getúlio Vargas, a proibiu de paticar o balípodo, pelo artigo 54, do decreto-lei 3.199, de 1941, que lhe proibia, também, de praticar outras modalidades consideradas impróprias para o sexo. Uma autêntica bola fora do então Conselho Nacional de Desportos, só escanteada em 1979.

Foram 38 temporadas de proibição. Quando elas se libertaram da lei de Vargas e rolaram a pelota, foram classificadas por lésbicas e execradas pelos patrocinadores que não as queriam associadas às suas marcas. Filhas de famílias pobres, para elas, o futebol e seu agressivo marketing poderia ser um meio de subida social para as as negras, mas demorou muito para que alguma delas se tornarsse uma garota-propaganda.

No caso da acusação de serem lésbicas (termo em desuso, substituído por sapatão), um exemplo meio-recente da discriminação rolou, em 2001, quando Federação Paulista de Futebol exigiu para elas exibissem feminilidade, cabelos compridos, corpo  delicado e curvilíneos, além de usarem uniformes mais curtos e justos.

 Passada a fase mais dura do preconceito contra a mulher futebolista, especialmente as negras, rolou, pela segunda metade do século 20, elas serem pouco procuradas pela imprensa. Quando isso ocorria, era para enaltecer a beleza das brancas, como da atacante Bel, do Internacional-RS, que chegou a ser capa de Playboy, a então principal do segmento sexy brasileiro. Tempos depois, a primeria negra a fazer o mesmo, na mesma revista, foi Marta, da Seleção Brasileira de voleibol, mas sem ganhar capa, só páginas internas.

 Vejamos o que se pode falar das quatro principais atletas do futebol brasileiro:

MARTA – Nenhuma futebolista bazuca conseguiu tanta notoriedade quanto Marta da Silva Vieira. Eleita, pela FIFA, a melhor do mundo, por seis vezes, a menina da alagoana Dois Riachos – nascida em 19.02.1986 - foi para o Vasco da Gama, com 14 de idade, em busca de um sonho. Fez 16 jogos e quatro gols, e sagrou-se campeã brasileira sub-19, em 2001. Por ver o futebol das mulheres sem importância por aqui – ainda defendeu o Santa Cruz-MG, por 38 jogos com 16 tentos -, ela foi se consagrar pelo sueco IK, pelo qual foi artilheira de quatro campeonatos e melhor atacante de 2007/2008.

  De lá para cá, Marata tem feito a sua carreira entre Suécia e Estados Unidos. O seu currículo inclui as artilharias de Copas do Mundo e de Jogos Pan-Americanos, além de duas medalhas de prata olímpica. Primeira mulher a jogar uma partida internacional entre os homens, ela foi chamada pelas Nações Unidas para ser sua Embaixadora da Boa Vontade. No Brasil, Marta não é considerada negra. Para os padrões europeus, não deixa de ser. Só não enfrenta preconceitos de cor no Velho Mundo por que é uma tremenda atleta do futebol e que já chegou a seis  Bola de Ouro – a última em 2018.

Considerada a melhor de todos os tempos, mesmo assim, Marta ganha 0,3% do rendimento anual do atacante Neymar, do francês Paris Saint-Germain, o brasileiro com maior renda bruta anual no futebol, embora os números dela pela Seleção Brasileira sejam melhores - desde 2015, ninguém marcou mais gols do que ela, 118, entre homens e mulheres. Tem, também,  medalhas olímpicas de prata-2004/2008 , da Copa do Mundo-2007, e de ouro dos Jogos Pan-Americanos-2003/2007 e é a maior goleadora de Copas do Mundo, entre homens e mulheres, com 17 bolas na rede. 

Quando passou três meses no paulistano Santos FC, venceu a Taça Libertadores da Améric, usando a camisa 10 que consagrou Pelé.  Com tudo isso, Marta não tem um patrocinador desde julho de 2018, o final do seu contrato com a Puma. Recusou-se a renová-lo, pelo valor oferecido (não divulgado). Prefere escrevr “goal equal” em sua chuteira, pois a soma dos cinco maiors salários femininos equivale a R$ 7,7 milhões de reais, enquanto os dos homens equivalem a R$ 175 milhões. 

PRETINHA - A primeira futebolista negra a ficar famosa (mas nem tanto) no Brasil foi Pretinha, isto é, Delma Gonçalves, que chegou à Seleção Brasileira, em 1991, e por lá esteve até 2014, tendo disputado quatro Copas do Mundo, quatro Olimpíadas, trazendo as medalhas de prata de 2004 e de 2008. Conquistou, ainda, a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos-2007, no Rio de Janeiro.

 Cria do Vasco da Gama, Pretinha chamou a atenção da imprensa pela bola que jogou na Grécia e valeu-lhe ser vice-campeã olímpica dos Jogos de Atenas-2004, quando foi a artilheira e encantou os japoneses, que a levaram – jogou também, nos Estados Unidos e na Coreia do Sul. Ser goleadora, por sinal,  foi uma sina de Pretinha. Ela escreveu o seu nome como a principal “matadora” das Copas do Mundo -1991/95/99/2007 e das Olímpiadas-1996/2000/2004/2008, sua segunda medalha de prata.

 MICHAEL JACKSON –  Quando o cantor norte-americano  fazia sucresso em todo o planeta, o futebol das meninas brasileira revelou uma xará dele, Mariléia dos Santos. Por 12 temporadas, ela foi da Seleção Brasileira, tendo ido a duas Copas do Mundo e a uma Olimpíada. Esteve no grupo que disputou a o Mundial-1991.

Nascida em 19.11.1963, teve 11 irmãos e começou na bola aos 12 de idade, em Valença-RJ. Além do escrete canarinho das décadas 1980/90, passou por Corinthians, Vasco da Gama e Internacional-RS.  Em 1995,  foi levada pelo italiano Torino, tornando-se a primeira brasileira a jogar por clube de fora do país. Foi eleita, pela  Federação Internacional De Historia e Estatística do Futebol a terceira melhor jogadora do século 20 na América do Sul .

 FORMIGA – Ela  já tem 41 de idade – nasceu em 03.03.1978, em Salvador-BA -, mas segue indispensável à Seleção Brsileira. Miiraildes Maciel Mota, a Formiga, faz jus ao apelido, pois é uma verdadeira formiguinha em campo. Razão de ter sido vice-campeã olímpica-2004/2008 e  vice-campeã mundial-2007, jogando como valente ou meia. Único ser do mundo da bola (entre homens e mulheres) a ter disputado sete Copas do Mundo, é a mais velha a marcar um gol - em 2015, quando tinha 37 de idade),

Formiga bate o recorde, também, em partipações olímpicas, com seis presenças, ao lado espanhol Manuel Estiarte (polo aquático), e da russa Evgenia Artamonova (vôlei). Além das medalhas prateadas já citadas, ela tem, ainda, as de ouro dos Jogos Pan-Amerianos-2003/2007/2015, e a prata de 2011. Em números de jogos canarinhos, com 151, ultrapassa o mais atuante do time masculino, Cafu (Marcos Eangelistas de Morais), com 149.

 Cahamada pelos familiares e amigos por Mira, ela coleciona, também, três títulos da Taça Libertadores da América e um Mundial Interclubes. Desde 1993, quando se profissionalizou, já  passou por 16 times – entre Brasil, Suécia, Estados Unidos e França -, mas só um da Bahia, de São Francisco do Conde, em 2016. Desde 2017, defende o francês paris Saint-Germanin.

 Formiga diz que jamais sofreu ataques racistas na Suécia, nos Estados Unidos e na França, mas não escapou disso quando jogou na cidade de Caçador, em Santa Catarina, onde um torcedor gritava “macaca” sempre que ela tocava na bola. Nascida em Lobato, periferia e Salvador, ela começou a chutar a bola aos 7 de idade. Vizinhos a chamavam por mulher-macho. As vezes, leava porrada dos irmãos, por jogar junto com meninos.

 Aos 16, Formiga estreou na Seleção Brasileira. O apelido surgiu aos 14, quando disputava uma partida do Campeonato Baiano e era a menorzinha no gramado. De mulheres atletas brasileiras, só ela e Marta são  figurantes do Museu do Futebol, em São Paulo, ao lado dos maiores ídolos masculinos do futebol canarinho.

 

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