Em 1979, aproveitando visita a Brasília, para disputar amistoso com o Taguatinga Esporte Clube, a delegação do Vasco da Gama foi agradecer ao general-presidente Ernesto Geisel, pela cessão de um terreno da União, no município do Rio de Janeiro, onde o clujbe pretendia construir um novo estádio.
O chefe do governo era aquele “alemão” sisudo que pouquíssimos espaços abria em sua agenda para desportos e desportistas. Dizendo-se botafoguense, ele até esnobou conhecimento de causa, dizendo ao goleiro Leão que a regulamentação da profissão de atleta de futebol seria “fundamental para a segurança na carreira”. E observou-lhe que “o jogador brasileiro se forma por si mesmo, sem nenhuma assistência técnica inicial”. Também, considerou que “os clubes deveriam ser mananciais de atletas”.
Naquele dia, o “Almirante” ofereceu ao general um título de sócio honorário, uma bandeja de prata, uma medalha e um livro contado a sua história. Após as homenagens, o anfitrião disse ao presidente vascaíno, Agatyrno Silva Gomes, que seguiria fiel ao seu Botafogo, mas, a partir de então, teria o Vasco por seu segundo time.
Além do goleiro Leão, o general conversou com o zagueiro Abel Braga. No papo com o primeiro, uma bola furada. Ao ouvir o choro do camisa 1, por ter disputado duas Copas do Mundo e só vencida uma (como reserva, sem jogar, em 1970), Geisel argumentou que, por aquele tempo, os outros países se iniciavam no futebol e se preparavam, com afinco, tornando a disputa mais difícil. Evidentemente, que a maioria das nações já praticavam o balípodo há um bom tempo.
Ao receber os presentes vascaínos, o general-presidente disse que o Brasil ainda estava muito atrasado na sua preocupação com os desportos e o preparo físico, e admitiu ser insatisfatório o papel do seu governo em torno da questão. Depois, destacou a atuação social vascaína na história desportiva brasileira. Nesse ponto, Agatyrno lembrou da colaboração do clube às forças armadas, comprando dois aviões para os pracinhas brasileiros combaterem durante a Segunda Guerra Mundial, e proporcionando meios para a instrução militar no estádio de São Januário.
BOLA ROLOU - No gramado, na noite da quinta-feira daquele 1º de fevereiro de 1979, o Vasco treinou. Mandou 5 x 1 no Taguatinga, sob chuva fina, no Estádio Serejão, com o time da casa se segurando até os 13 minutos. Por ali, Paulo Roberto lançou e Guina abriu a porteira. Como gramado escorregadio, o treinador Carlos Froner mandou a sua rapaziada se segurar. Mas ela só se segurou até 38 minutos, quando Paulinho fez 2 x 0. Na fase final, Guina ampliou: 3 x 0, aos 20 minutos. Aos 26, Lindário diminuiu, para o “Taguá”. Mas, logo em seguida, Paulinho escreveu 4 x 1 no placar, que foi fechado por Guina (FOTO), pouco depois: 5 x 1.
Como Vasco da Gama, o português nascido em Sines, fora um sujeito cruel, bombardeador e sanguinário, logo, homenagear um general ditador estava tudo em casa. Os rapazes que não tivera nada a ver com crueldades pelo caminho marítimo para as Índias e nem com os mimos no Palácio do Planalto foram: Leão; Gilson Paulino, Abel Braga, Geraldo e Marco Antônio; Helinho (Zé Mário), Guina e Paulo Roberto; Wilsinho, Paulinho e Ramon (Nenê). O Taguatinga era: Carlos José (Wilmar Gato); Aldair (Vaner), Dão, Santana e Lúcio; Warlan (Araújo), Marquinhos Lelé (Kim) e Lindário; Roldão, Paulo Hermes (Wilton) e Zé Vieira. Edson Rezende apitou, auxiliado por Antônio Barbosa e José Vida. A renda foi de Cr$ 200 mil cruzeiros e o público não divulgado – Geisel não foi ao jogo.
O Vasco encarou o Taguatinga em quatro oportunidades: 21.07.1976, quando venceu, por 3 x 0, levou o meia-atacante Banana, emprestado, e promoveu um jogo de estreia do contratado, então maior jogador do futebol brasilense, atuando um tempo por cada time, em São Januário; 01.02.1979, o jogo citado no texto acima; 10.06.1982, quando mandou 1 x 0 e Roberto Dinamite recebeu a notícia da convocação para a Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo da Espanha (na vaga do contundido Careca), e, finalmente, em 06.06.1984, quando repetiu 1 x 0.
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