A PUBLICIDADE NAS REVISTAS ESPORTIVAS BRASILEIRAS - PUBLICAÇÕES DE CLUBES

Um bela capa rubro-negra de 1937

O uso de computadores em trabalhos gráficos só chegou a maioria dos  jornais e revistas brasileiras pela década-1980. Mas publicações semanais como as magazines O Cruzeiro, Manchete e Fatos & Fotos, as principais do século 20, eram bem diagramadas e com um bom visual, bem antes da era da informática. Logo, já havia  profissionais criativos no mercado nacional. Como se explicar, então, um clube como o Flamengo ter revistas fracas, editorialmente, se nas décadas-1970 a 1990 ganhou tudo o que disputou? No mínimo falta de uma boa qualificação dos envolvidos com edição e publicidade. Bate com o que considerou um torcedor quando escreveu à redação que laçou a revista de 2009?

As duas grandes publicações sobre o Flamengo, antes da era digital, foram publicadas pela Gazeta de Notícias e a Rio Gráfica Editora. A primeira lançou cinco fascículos, com o título Mengo 70, cada um com 36 folhas. Contou tudo sobre a vida rubro-negra até então, rica em fotografias, com belas ilustrações de Walmir e muitas charges de Henfil. Só não tinha publicidade, passando a impressão de ter sido um mutirão de rubro-negros, patrocinado pela publicante, confiada na venda avulsa que sensibilizaria maior torcida do futebol brasileiro. Afinal, 180 páginas, no tamanho 31cm x 24 cm, não eram nada barato, sobretudo devido fotos as coloridas (havia muitas sépias, também).

Anúncio em revista do Alecrim-RN, em 2005

 De sua parte, a Rio Gráfica colocou nas bancas de todo o país a sua história do Flamengo pela coleção Grandes Clubes Brasileiros, em 1971, com 130 páginas – este projeto foi repetido, décadas depois, por Lance.

Empresa do grupo Roberto Martinho, a Rio Gráfica vendeu 15 anúncios – cigarros LS, da Companhia Lopes Sá; canetas Compactor; uísque Royal Label Extra; aguardente Pitu; lojas Ducal, com Pelé garoto-propaganda de roupas em duas inserções; empresa estatal de energia elétrica Light; empresas de aviação aérea VARIG e Braniff;  lojas Ultralar; cuecas Alert; Investbanco; Fundos Interval  de Investimentos e Fidelidade; Instituto de Investigações Cientificas e Criminais; Curso de Desenvolvimento Muscular Joe Weider e os recados da casa sobre a trilha sonora da novela O Cafona, da TV Globo,  a Rádio Globo e o jornal O Globo.         

 Quem pesquisar revistas de clubes pelas mais diferentes partes do país, da época em que a instituição Flamengo ficava devendo uma grande publicação à sua torcida, encontrará revistas melhores e com mais anunciantes em centros muito menores do futebol brasileiro. Caso da Revista do Gama-DF. Entre 2000 e 2001, tinha patrocínios do Governo do Distrito Federal, divulgando o Banco de Brasília, programas sociais esportivos e nota fiscal); da Assembleia Legislativa do Distrito Federal; do Café do Sítio e da loja de material esportivo Virada, as duas maiores empresas de seus setores na região; da Rhumell, marca de material esportivo, e dos salgadinhos de milho Radical, este um pequeno anunciante.

Revista do Gama-DF, em 2000 

EM CATALÃO, no sul do Estado de Goiás, o Clube Recreativo Atlético Catalano-CRAC, campeão da primeira divisão estadual-2004, entregava aos seus torcedores um belo álbum histórico com “um time de recados” – (11) - Prefeitura Municipal de Catalão; Camisa 10 e Esportes Central (lojas de artigos esportivos); Dicebel (distribuidora de bebidas); Empreiteira Hens; Almeida Self-Service (fornecedora de marmitex); Hebert Hegert Johanssen (recuperadora de resíduos);  Retífica e Auto Peças do Marcelo e Marcelo Bombas, Injetores e Serviços;  Gráfica São João; Anglo Catalão (ensino infantil, médio e fundamental); Sapataria Brasil e Posto Avenida.  

 Nesse mesmo esquema comemorativo, em 2005, o Alecrim Futebol Clube, de Natal-RN, celebrou 90 temporadas nos gramados também com uma bela revista e muitos recados para um mercado publicitariamente pequeno como o da capital do Rio Grande do Norte – Garra Vigilância; Fã Clube Além do Horizonte (do cantor Roberto Carlos); PJ Locação e Serviços; Lavanderia Primavera; Terceirize (projetos gráficos e editoriais); CDF Roberto Freire (colégio); Sport Master (material esportivo); Centro Vital (medicina); Bazar São Paulo; Picanha e Pizzaria do Quebras Osso; Prefeito Ozaílton Teodósio de Melo, de Senador Elói de Souza; vereadores Júlio Protásio e Aquino Neto, de Natal; PPS (partido político); Secretaria de Tributação-RN; Gaby (auto peças Fiat); Proceca (contabilidade, processamento de dados, auditoria e advocacia); Ítalo Pinheiro (advogado); Pro Seg (seguros); Cesário Móveis; Clube do Samambaia (samba dominical); Torkauto (pneus, peças e serviços Michelin e BF Goodrich) e Fácil Comunicação, esta a lançadora da revista, editada por Alan Oliveira, tendo por destaque um pôster central com Mané Garrincha n time do Alecrim e o registro do seu jogo pelo clube, em 1968.      
De forma também "golaço", o paulista Guarani, de Campinas, publicou a história do cinquentenário do Estádio Brinco de Ouro da Princesa, patrocinado pela Medial Saúde. Além do rico acervo fotográfico do andamento da obra, mostrou ao leitor seus times que levantaram a galera, como o que goleou o Santos (com Pelé), por 5 x 1, na noite de 18 de novembro de 1964, e o primeiro campeão brasileiro de uma cidade do interior, o de 1978.       

 Em um centro maior do futebol brasileiro, o Esporte Clube Vitória, campeão baiano-2013, lançou o  máximo do que se poderia esperar de uma revista institucional esportiva. O seu nº 3, sem citar o ano, e com 60 páginas, foi uma das melhores já publicadas no gênero no país, deixando para trás muitas revistas paulistas, do principal futebol brasileiro. Com edição de Yordan Bosco e projeto gráfico, diagramação e tratamento de fotos a cargo de Alexandre Karr, só trouxe o anúncio da Locadora Mila. Os demais eram da casa, chamando o anunciante. Estratégia baiana.