É antigo, da primeira metade do século 20, a
prática de os clubes brasileiros lançarem boletins informativos aos associados e
revistas. Começou com o papel jornal que, devido ao envelhecimento, rasga-se,
hoje, ao menor toque sem muito cuidado. Eram exemplares que, as vezes
apresentavam fotos até com qualidade que ainda permitem uma boa reprodução.
Por aquela época, as agremiações já corriam
atrás de anunciantes para enfrentar os custos de produção, passando os seus
recados de maneira que hoje não se se encontra mais nem em classificados dos
jornais. Veja, por exemplo, este da primeira
Revista do Corinthians, de 1933 (no alto à esquerda). Na década seguinte, ainda usava-se
muito os anúncios com letras enquadradas, normalmente, em espaço 10cm x 05cm, mas
já havia peças publicitárias avançadas, até mesmo em história em quadrinhos. O dentifrício
Colgate patrocinou uma para o Nº 1 da revista Tricolor, lançada pelo São Paulo
Futebol Clube em 1949. A mesma edição, que teve 33 anúncios, trouxe também
produção de agência publicitária, desenhada a lápis, para a Prudência Capitalização.
Entre os primeiros
parceiros da revista são-paulina, alguns já tinham o nome bem fixado no
mercado, como Guaraná Champagne; Q.BOA, o alvejante que segue até hoje na
agenda das donas de casa; Maizena; Maracugina, complexo vegetal para o sistema
nervoso, produzido pelo Laboratório Paulistas de Biologia; Hepacholan Xavier,
remédio para o fígado; Saraiva, editora
de livros; Banco Nacional Imobiliário; Fábrica de Calçados Zanetti e Companhia
Textil Santa Catarina.
QUATRO ANOS DEPOIS, o
Clube de Regatas Vasco da Gama exibia a sua revista por um papel de melhor
qualidade, com espessura duas vezes maior do que o usado pelos são-paulinos e
seis a sete vezes mais forte do que o do boletim mensal do rival Flamengo da
década-1920. Medindo 32,5cm, x 22,5cm, o produto vascaíno era chamada de
Boletim de Informação e o exemplar de janeiro/fevereiro de 1953, publicado como
Nº 1 da 2ª série, já estava no ano 12. Chamou muito a atenção dos leitores
belas capas coloridas produzidas pelos artista Aristóteles de Abreu Almeida, em
1953, e Orlando Mauro, em 1954.
Os responsáveis pela
produção editorial enchiam as edições de peças das casas portuguesas e, ainda,
deixavam um recado pelas páginas: “O Boletim pede a sua preferência para os
nossos anunciantes. Eles colaboram para o prestígio desta publicação vascaína,
feita para os vascaínos”. Entre algumas empresas de vascaínos anunciavam:
Fornecedora de Madeiras Cruza de Mallta; União Fabril Exportadora, divulgando o
Sabão Portuguez; Pan-América Indústria
Gráficas; Companhia Comercial e Marítima; Ótica Rio e Organização Imobiliária
Bel-Mar. Isso, além de dezenas de comerciantes que iam de restaurantes a chapelarias,
passando bares, cafés, sapatarias, alfaiatarias, sofás, flores, cargas,
encomendas, refrigeração e até advogado oferecendo serviços em Portugal.
Entre outros nomes famosas, também se faziam presentes:
Brahma Chopp; Grapette (refrigerante); Café Predileto; Banco Mercantil de
Niterói; Casa José Silva (vestuário para homens); Mundo das Tintas;
Carrosserias Metropolitana; Superball (artigos esportivos); O Camizeiro e Casas
Huddersfield (casimiras tropicais).
O Vasco da Gama sempre fez questão de manter a
sua divulgação ativa. Em julho de 1960, o nome já era Revista do Vasco e a
captação de anúncios entre os comerciantes portugueses seguia, evidentemente.
Mas outras firmas tornaram-se clientes, como Gillette; Facit; Mesbla e Lojas Nice. O
detalhe foi que as edições encurtaram para 23cm x 15,5 cm e o papel jornal
voltou. No tempo do boletinzão tinha-se mais anúncios.
POR FALAR EM BOLETIM,
o Botafogo foi o clube que mais demorou usando esta denominação para o seu
divulgativo oficial, como constam, por exemplo, nas hoje raríssimas edições com
a foto do time campeão carioca de 1948 e
o da 3º Olimpíada Botafoguense, em novembro de 1959, quando imprimiu-se o Nº
156, em papel jornal e todo em preto e branco. Em 1998, passou a ser Revista do Botafogo, com
vários anúncios natalinos da casa, em dezembro, pelo Nº 6. Contrastando com a
vagareza alvinegra em adotar um nome mais em moda, os rubro-negros já
circulavam coma Revista do Flamengo em 1937 – a terceira edição com a nova
denominação, em dezembro, trazia a beleza da nadadora Lygia Cordovil. Em 1939, já
faziam capa artisticamente tão bem trabalhada quanto as cruzmaltinas da década-1950
– por exemplo, o Nº 11 do ano 3.
Embora fosse um clube de grande
torcida, o Flamengo jamais produziu revistas majestosas. Quem mais marcou
pontos junto à sua galera e aos anunciantes foram o Jornal dos Sports e as
revistas Placar e Lance. Estas duas, juntas, já tiraram 12 edições especiais em
cima da mística do clube, entre 1971 e 2009, ano em que o clube tentou colocar
na praça um novo produto. Na época, um leitor escreveu à redação da nova experiência
que suprimia a palavra revista e titulava só Flamengo com as letras CRF
entrelaçadas ao O: “A revista tá muito maneira, coloridaça, cheia de assunto e,
principalmente, produção cultural rubronegramente correta, isto é, só fala do
Flamengo! Isso sim é que é revista. Não são aquelas porcarias que a gente
compra porque o Zico tá na capa e acaba pagando pra ficar sabendo que
seilaquenzinho foi fazer presença no churrasco...Na Revista do Flamengo não tem
essa, os temas são selecionados”.
Editada por Marcio Saldanha Marinho, o projeto
foi oficial, com filosofia diferente da maioria das publicações clubísticas, muito
institucionais. A linha editorial focou totalmente o torcedor, segundo Ricardo
Hinrichsen, o então diretor executivo de marketing do Flamengo. Mas não
funcionou. Saiu logo do mercado, não conquistando o anunciante, mesmo
com o clube campeão brasileiro na temporada. O mesmo ocorrera com uma nova
revista do Vasco, mais ou menos dos mesmos moldes.
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