Vasco

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sábado, 30 de janeiro de 2016

A PUBLICIDADE NAS REVISTAS ESPORTIVAS BRASILEIRAS - SEGUNDO TEMPO

O nº 1 foi muito animador
  Em 2008, o diário Lance e o site Lancenet estavam entre as opções esportivas mais consumidas pelo torcedor. Já eram os temos do “tempo real” e o  comandante Walter de Matos Júnior via o avanço tecnológico e novas mídias oferecendo uma avalanche de informações aos leitores. Então, encarou mais um jogo, por entender que faltava por aqui um veículo que “acolhesse material jornalístico mais denso, profundo...e abrisse espaço para outros temas (além do futebol)  de interesse masculino”.
 Era outubro daquele 2008, quando a revista Fut! chegou às bancas, com 100 páginas coloridas e a crença de um time de anunciante (11) de que abria-se o caminho para mais um grande sucesso nas paradas. O estúdio Cases i Associados, da catalã Barcelona, ficou encarregado de traçar o projeto gráfico e, para a bola rolar redondinha, Andrés Buzone foi escalado de meia-armador (coordenador) e Edson Rossi de chefe da equipe (editor) que entraria em campo.  
 Fut! rolou a bola com visual mais alegre do que as revistas do seu tempo que tentaram viver na faixa do esporte, como Trivela, Invictus e a futura ESPN. Fazia jogo duro com Placar, que já tinha mais de 30 temporadas na cancha. Com a vantagem de usar intertítulos (descansadores visuais) em matérias longas, o que as outras, as vezes, ficavam devendo. Até as tradicionais entrevistas do formato pergunta e resposta saíram mais leves, graças ao uso de um número maior de fotos e de boxes com a fichas dos entrevistados.
 Foi uma espécie de segundo tempo de Walter Mattos Júnior no prélio das revistas esportivas. Antes, ele tirara Lance A + de campo, por sinal, publicação que fazia-se lembrada em muitas páginas da irmã que chegava. Inclusive emprestou o gen da divertida colunista Mary Fut, prima distante da “Candinha” da Revista do Esporte das décadas 1950 e 1960, e convocou as “Evas” ao bate-bate das perguntas e respostas (esportivas, é claro), por Mulher& Fut – no primeiro número, Luciana Vendramini, a mais famosa das “paquitas” (dançarinas do programa de Xuxa na TV Globo), respondeu a 11 indagações de Adriano del Negro, embelezando a página uniformizada de atleta do escrete canarinho, fotografado por  Samantha Dalsoglio.
  Fut! sequenciou uma tendência inevitável para qualquer revista esportiva da hora, de há muito rolando no placar do consumidor, principalmente o adolescente, concatenador de boas tabelinhas com os caixas registradoes das lojas. Além de dicas de comportamento, oferecia-lhes sugestões sobre higiene pessoal, musicas, livros, filmes, games, bebidas, modas e outros prazeres desses tempos globalizados e ultramodernos. Com certeza, o time de anunciantes do número de estreia não reclamou – Petrobras, Nestlé, Caixa Econômica Federal, Avanti Rio (loja de automóveis), Fanáticos por Futebol (venda de camisas), Antissépitico Granado, Um 2 (patrocinadora esportiva), Unisuam (cursos de graduação e pós), Fatalsurf, Topper,  Sky e Premier Futebol Clube (canais televisivos a cabo) e TV Bandeirantes. Como a revista contabilizou 11 anunciantes, possivelmente, dois desses três últimos ciados podem ter sido permutas, trocas de gentileza.
Nem precisa ser surfista. Realmente, muito fatal
 Um pecadinho foi cometido pelo Fut! Embora citasse pelo expediente os nomes de Luciano de Araújo e de Fernanda Rossi como responsáveis pela arte, e de Cláudia Roberto pela infografia, esqueceu do homem do bico do lápis, o chargista. Quem pesquisar, por exemplo, a semanária Globo Sportivo, da década-1940, encontrará divertidíssimas charges e histórias em quadrinhos, um show de desenhos, também do argentino Molas, o criador de vários “representantes” de times cariocas. Uma década depois, a Manchete Esportiva tinha em suas páginas um outro grande nome da história da charge esportiva brasileira, Otelo Caçador, que tornou-se uma das maiores atrações do caderno de esportes do jornal O Globo da década-1960, escrevendo e desenhando a coluna Penalty, de página inteira. Adiante, a Revista do Esporte também convocou mais um desses grandes astros, Luzardo. Em São Paulo, A Gazeta Esportiva não deixou de entrar no jogo, bem como Placar, por onde desfilaram craques do grafite, como Henfil, só para citar um só.
 Como todas as revistas, Fut! usava as suas páginas para divulgar as suas virtudes (anúncios da casa) e abria grande espaço para o futebol internacional que as TVs a cabo ofereciam, de montão, aos  assinantes. No entanto, os seus contatos publicitários não conseguiram comover muitos anunciantes para a quinta edição, em abril de 2009. Apenas Rexona, Granado e Heineken (cerveja) “compareceram ao recinto”, isto é, ao cofre. Com certeza, a conta da produção mensal ficou para ser paga pelo bem vendido diário, feito em papel jornal, enquanto o outro era impresso no nada barato couchê.
Marta, única garota da capa
  A edição 10, trazendo novidades como a colunista blogueira Fanni Duarte e palavras cruzadas – muito usadas pela Revistas do Esporte e  A Gazeta Esportiva – até melhorou o quadro – Banco Itaú, Cachaça Pirassununga, Rexona, Chevrolet, Honda, APAE (entidade com fins sociais) e Fiat prestigiaram, mas sete peças publicitárias eram pouco para o custo de um projeto daqueles, que seguia com 100 páginas coloridas. Não seria a hora de rever o projeto? Certamente, não rolou, pois Fut! Jamais mudou. O número 20 manteve a tendência dos poucos recados –Itaú, Garnier, Rexona e Granado (higiene pessoal), Pirassununga (pinga), Chevrolete Fiat –, bem como o 30  – Alog (hosting gerenciado), Granado e Nívea (higiene pessoal). Já o 40 – Netshoes (produtos esportivos) e Granado –, contando com infografias de Alessandro Meiguins e Glauco Diógenes, e humor desenhado e computadorizado por Mário Alberto – colocou o projeto na marca do pênalti.
Nº 41,o último
Pelo seu último número, o 41, de abril de 2012, Fut! fez um ensaio com 11 fotos sexy da modelo Emily Nascimento – tardiamente! Até então, os “mulherões aviões” só pintaram bem comportadamente pela sessão Mulher & Fut! Apareciam em outras páginas, mas não escancaravam tanto a estampa como fazia Placar, que as mostrava até com os seis de fora, para “gáudio da galera”, como deveria ter dito o filósofo de arquibancada. Na capa, só a superestrela Marta.
Fut! saiu de campo com apenas dois anúncios – material esportivo da Nike vendido pela Netshoes e o talco antisséptico Phebo. Assim não dava.  Desse jeito, o “Tio Walter”  iria terminar pegando uma violinha e um chapéu, e ficando ali na equina cantando pra ver se arrumava uma graninha pra comprar o jornal no dia seguinte.

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