Vasco

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sábado, 16 de janeiro de 2016

A PUBLICIDADE NAS REVISTAS ESPORTIVAS BRASILEIRAS - EDIÇÕES ESPECIAIS (16)

 As edições especiais comemorativas de conquistas de títulos foram um meio de a revista carioca Esporte Ilustrado ir às bancas com maior número de anunciantes. Por exemplo: se a edição 200,  de 5 de fevereiro de 1942, número para ser bem explorada pelos contatos publicitários, foi publicado (32 páginas) com apenas seis anúncios (ver abaixo), quando o Vasco da Gama sagrou-se campeão estadual-1949, a cota subiu a três dezenas, nas mesmas 32 páginas, com quatro peças de página inteira e uma pela metade.
Desses recados, três tentavam se ligar inteiramente ao torcedor, por ilustrações de lances esportivos, um torcedor chato na arquibancada, de costas para o momento do gol e com a cara de quem nunca usou o “sal de fructas Eno”; o chute fatal do goleador do “instante decisivo”, como  Instantina, da Bayer, que dizia cortar os resfriados também num instante, além do inteligente recado do Óleo de Lima, que “dá brilho e maciez ao cabelo”. Se mandava o consumidor saltar mais acima e confiar em seu produto, uma disputa no basquetebol rente à cesta estava em cima. Com foi em cima, também, uma vendedora da Rua da Carioca que, jogava pra torcida dizendo que, se “o time modelo é o Vasco da Gama” a “Alfaiataria Modelo era o modelo das alfaiatarias”. Lace perfeito, já que a revista dirigia-se a torcedor vascaíno.
Outros anúncios daquela mandavam avisar que, se o time campeão passou muita dor de cabeça aos adversários, a saída para um sorriso pós-dor era a Cafiaspirina, “o remédio de confiança” da alemã Bayer. Por falar em cabeça, se o torcedor era vaidoso e não queria parecer velho, com cabelos brancos, uma garrafa de Juventude Alexandre sumia com o problema, evitando tingimento.Nesse lance de vaidade quem entrava também era a Loção Phenomeno (sem acento) , fortificador dos cabelos e que gritava: “Sae, caspa!” (no original).
Ser um bom orador também seria uma grande jogada. Melhor ainda mantendo a calma, dominando os nervos com Adalina, mais um produto Bayer. Marcar a hora de usá-lo poderia ser pelo relógio Cyma Automatic, um modelo tão elegante quanto a elegância vendida pela Camisaria Veneza,  da Rua Pedro I, ou pelas roupas para esporte, praia e campo vendidas pela Mesbla, na Rua do Passeio, tudo isso no Rio de Janeiro. Esta era a onda, também, da Vieira de Castro, empresa com cinco lojas vendendo vestuário, chapelaria, calçados, perfumes, produtos esportivos, de higiene pessoal e para a mesa, e a Casa José Silva. E, como ninguém era de ferro, batia-se uma pelada, com bolas Superball e, depois, molhava-se o pescoço por dentro com Braham Chopp.         
Obs: os anunciantes do Nº 200 da EI que seriam citados aqui  embaixo são: Diário de Notícias, que se dizia “o jornal dos bairros residenciais” e “o matutino de maior circulação do Rio de Janeiro”; Revista da Semana, “a melhor revista semanal”; Almanaque Eu Sei Tudo, “um livro para todos”;  Fox, “o melhor calçado do mundo”, segundo a carioca Braga& Woolman, da Rua Mendonça; Fasanello, que vendias bilhetes lotéricos e sorteava um automóvel Chevrolet, e o Juventude Alexandre, afirmando não ter substituto e sugerindo usá-lo e não mudar, contra a caspa e queda dos cabelos.     

POTÊNCIA PLANETÁRIA – Entre 1945 e 1952, o Vasco da Gama foi o time mais forte do futebol brasileiro e um dos melhores do mundo. Chegou a vencer o inglês Arsenal, que se considerava o numero 1 – os ingleses não disputavam a Copado Mundo, por acharem que não havia adversários para eles. Logo, os vascaínos seguiam sendo caminho das pedras para vendas de anúncios.
 Quando da conquista do último título da “Era Expresso da Vitória”, em 1952, a Esporte Ilustrado vendeu 27 anúncios para Nº 775, (32 páginas)  publicado em 12 de fevereiro de 1953, com a demora causada pelo tempo oferecido aos contatos publicitários para as vendas de espaços no mercado carioca.
Batia na rede durante as negociações lembrar aos anunciantes que o Vasco da Gama ganhara cinco dos sete campeonatos estaduais disputados entre 1945 e 1952, além de três municipais, dois Torneios Inícios (festival de futebol que antecedia as aberturas do Campeonato Carioca), um Torneio Relâmpago e tornara-se o primeiro time brasileiro a conquistar uma competição no exterior, o Sul-Amreicano-1948, no Chile.
Com tal estatística ajudando, foram vendidas três páginas inteiras – Brahma Chopp, Cibrasil e Alberto Portella & cia Ltda, vendedor do sofá Camabel –; quatro de três colunas – Ladrilhos Ayres; Creme de Milho Lux; Polar (calçados) e Perfumaria Meyer; oito de duas colunas – Casa Marques (armarinho e confecções); Velas Senun (para filtros de água); A Portuense (joalheria, relojoaria, prata e filigranas portuguesas); Calçados Souto; Calçados Fox; Óleo de Peroba; Joalheria Área e Almeida e Comércio Indústria de Ferro e Patrone (caramelos, toffus e ovos de páscoas) –; duas de uma coluna, de ponta a ponta – Caixa Econômica Federal e Polvilho Antisséptico Granada –; dois aparecimentos do  lustra couros Tic-Tac, com quatro coluna verticais, em pé de página, com 21 x 6 cm, e pequenas inserções – Loção Phenomeno; Curso Prático de Danças Ritz;  Amaralina (tônico capilar) e Peitoral Pinheiro (contra tosse).
A grande venda, no entanto, foi para J.Isnard & Cia Ltda, de duas páginas centrais, nos fundos do pôster do time campeão. A loja dos ciscos portugueses, dizendo-se “ a preferida pelos campeões de 52”, comprou espaço com quatro fotos dos jogadores na concentração, inclusive conferindo os seus discos. Por uma delas, o goleador Ademir Menezes,  empaletozado, recebia uma eletrola presentada pela firma.
ESTAMPA -  Esporte Ilustrado era o que de melhor o desportista brasileiro poderia ter, entre as décadas-1930 e até as suas quase 900 edições semanais. Trazia muitas fotos de jogos, de gols, de atletas, de times posados e de pessoal que complementava o  ambiente. E tinha o diferencial de mostrar  lances de bola na rede por gráficos. Mesmo assim, pode-se considerar, hoje, pequena a sua inserção publicitária, se comparada com o que vendeu a revista Placar,  entre 1970 e 2015, quando pertenceu à Editora Abril – atualmente, é da Editora Caras. Vale assinalar, no entanto, que, por aquela época, não havia as multinacionais do esporte e firmas fortes brasileiras se divulgando por até duas páginas.
 Naquele ano de 1953, quando o futebol brasileiro vivia uma boa fase e vendeu boa quantidade de anúncios para uma edição especial, a EI chegou a sair – Nº 797, de 16 de setembro – com apenas três pequenos anúncios – Loção Phenomeno; Juventude Alexandre e Amaralina (tônicos capilares) – e um pequeniníssimo, de quatro linhas, do Curso de Literatura, Estilística e Português, por correspondência. Aquilo, porém, não era novidade. Em 1950, por exemplo, chegou a circular apenas três peças nas páginas interiores, dos assíduos Peitoral Pinheiro, Juventude Alexandre; Granado e Cymo Automatic (relógio), e só mais uma, de lustres de cristais da Galeria São Pedro. Houve, porém, uma página inteira, na contracapa, de Casas Roulien, vendendo relógios, óculos, colares, pulseiras, leques, canetas, anéis, alianças, brincos, broche, coisas do gênero vaidade.

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