Semanária
do empresário Roberto Marinho, a revista carioca “O Globo Sportivo” antecedeu a
“Manchete Esportiva” na prática de não ligar muito para a cata de anúncios.
Tinha um grande jornal por trás para segurá-la.
Bem diversificada, visitando os mais diversos
esportes e abrindo espaços para divulgar individualmente os atletas, a
publicação apresentava grande potencial
para os anunciantes colocarem as suas peças publicitárias. Inclusive,
trazia algo que o torcedor gostava muito, as historinhas em quadrinhos, as
vezes até duas por edições, desenhadas por Vasquez e Otelo Caçador, e as cartas
que chegavam dos mais diferentes pontos do país, indagando sobre fatos do
futebol e que eram respondidas pela redação. Desperdiçava, porém, este dado, que
seria uma boa informação para possíveis clientes.
Comparadas com a Manchete Esportiva, que era
moderníssima para a sua época, a revista de Roberto Marinho parecia muito
antiga, com diagramação, as vezes, em uma, duas e três colunas largas, além de texto muito grande, o que cansa o leitor. Também,
em alguns casos, a qualidade das fotos era sofrível.
Um bom exemplo do descaso pelo anunciante pode
ser visto pelo Nº 634, do começo da década-1950, quando a revista chegava à sua
13ª temporada, o Vasco da Gama tinha o time mais forte do país, os seus
jogadores estavam sempre saindo nas capas e em matérias internas, além de os
comerciantes portugueses terem grande presença no mercado carioca. Por aquela
edição que trazia o atacante vascaíno Djayr na primeira página, vangloriado
como a “revelação de 1950”, só entraram dois anúncios pequenos: do médico
Milton de Almeida, oferecendo diagnósticos, tratamento e cirurgias de ouvidos,
nariz e garganta, e a pecinha que frequentou muito as páginas das revistas
esportivas, do Juventude Alexandre, “insuperável contra queda dos cabelos e
calvice precoce”.
Uma terceira divulgação de produto na mesmas
ediçã, da água sanitária Super-Globo, estava inserido, como anunciantes no
programa humorístico de Silvino Neto, o “Clube das Camaradagem”, transmitido
pela Rádio Globo-PRE 3, que valorizava o seu comunicador como “o humorista Nº
1”. E só.
Mais adiante, pelo pela mesma temporada e pelo
Nº 662, de 20 de outubro de 1951, com mais um atleta cruzmaltino na capa –
Friaça –, a revista trouxe quatro anúncios – Grapette, refrigerante de uva, com
desenhos de um rapaz e de uma moça, e a gracinha no texto “Ivo vê a Eva; Eva vê a uva”; do polvilho
antisséptico Granado, também com desenhos; da Gilette, em um colunão ocupando
mais da metade de página e o desenho humorístico de um sujeito cantando serenata
e a homenageada atirando um prato na cabeça dele. A mensagem era inteligente:
“Se a cosias está preta para ele” dizia que ficaria “tudo azul para os que usam
Gilette Azul”. E agora colocava o desenho do cantor feliz ao lado da paquerada,
com o texto fazendo alusão a um programa radiofônico de calouros, e o constante
Juventude Alexandre que vinha anunciando-se desde os tempos da revista Esporte Ilustrado.
Mais um exemplo da pouca venda de núncios numa
época em que o comerciante portugueses gastava muito dinheiro devido a sua
paixão pelo Vasco da Gama foi o Nº 687, de 19 de abril de 1952, quando o clube
ainda tinha nos trilhos o “Expresso da Vitória”. Trazendo o atacante Jansen na
capa, a revista vendeu apenas cinco anúncios, nenhum aos portugueses – Charles
Atlas, tônico muscular; Granado e Juventude Alexandre, e Grapette, já citados;
Vitalis, tônico capilar e Brama Chopp, “um prazer incomparável!”, esta
anunciando-se por uma página inteira.
Assim, na fase do melhor time que o futebol
brasileiro havia montado, com comerciantes portugueses de cofre cheio, jogou-se
fora um bom mercado publicitário.
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