Como lemos no capítulo de ontem, a troca de
favores entre o rádio e a revistas esportiva foi um dos casamentos que deram
mis certo nas décadas passadas. E quem mais se casou foi a Revista do Esporte, que
fez permutas com várias emissoras, não só para divulgar transmissões da turma
da “latinha” nos gramados, tablados, pistas e quadras, entre outros, como,
também, programas humorísticos, com leremos em um outro post.
No rol dos parceiros da semanária do
comendador Anselmo Domingos, trocou-se gentilezas com várias rádios, entre elas
Panamericana-Record, de São Paulo, e as cariocas Nacional; Guanabara, Mauá, Vera Cruz; Mauá; Mayrink Veiga, Tupi e a a Emissora Continental, a única que não usava o nome rádio.
Os anúncios eram sempre idênticos. Por uma
página inteira colocava-se fotos e nomes dos integrantes da equipe, frases
valorativas do trabalho, slogan e, as vezes, nomes de patrocinadores. Em 1969, durante
a penúltima temporada da RE, o recado da estatal Rádio Nacional do Rio de
Janeiro era o mais simples possível, dentro do esquema citado acima. Dispensava
fraseados e preferia dizer que “O Brasil torce com a Nacional”, citando os
patrocinadores Companhia Fiat Lux de Fósforos de Segurança e a também estatal
Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A.
Evidentemente, ouvinte assíduo de programas e
jornadas esportivas sabia do nome de todos os membros de uma equipe. Era
preciso, porém, prestigiá-los dentro dos anúncios, que abriam as sessões de
fotos com a principal estrela da casa, caso do narrador Jorge Curi, da Nacional.
E o seu rosto (nunca havia foto de corpo inteiro) era acompanhado, em
sequência, pelos dos colegas José Sobrinho, Zoulo Rabelo, Paulo César Tenius, Moysés
Maciel, Márcio de Sousa, Pedro Paradella, Valdir José e José Rezende.
EM SEUS PRIMEIROS TEMPO , a RE trocou muitas figurinhas
com a Emissora Continental, deixando a impressão de que os seus jornalistas criaram
grande afeição ao narrador Waldir Amaral, tornando-o “speaker” mais prestigiado
pela redação do comendador, pois era mais anunciado do que a sua equipe. Ou um agência publicitária preparava estas duas peças que você vê. Da época em que ele já estava na Rádio
Globo-JR. Sua caricatura saía acompanhada por fotos de lances de jogos e que, com certeza, ganhariam
premiações, caso as disputassem. Considerações parecidas dispensavam-se a aos
locutores Oduvaldo Cozzi, da Mayrink Veiga, e Orlando Baptista, da Mauá, ambas também
cariocas. Ganhavam fotos abertas, em destaque, mas nunca com as imagens encartadas
das divulgações de Waldir.
Cozzi fazia transmissões marcantes, inesquecíveis |
Quando colocava o rosto “do vibrante Waldir Amaral” dentro de uma bola, a RE estendia a divulgação à TV Continental (Canal 9), que
prometia “no seu receptor as mais empolgantes partidas de futebol no Brasil ou
no exterior”, avisando que 1959 seria o seu ano, isto é, iria lutar forte
contra a concorrência.
A troca de
gentilezas incluía divulgação, também, do programa “Basquete em Foco”, que Noli
Coutinho (colunista/repórter da RE) apresentava na emissora “100% esportiva e
informativa”, sob patrocínio da aguardente Praianinha que, no entanto, colocava
os seus anúncios mais criativos e alegres na Manchete Esportiva, muito
provavelmente, porque encontrava espaço maior – a RE media 27cm de altura, por
18,5 de largura, enquanto a ME tinha 34,5cm x 25,5cm. É muito provável, também,
que a Alpargata, o Brim Coringa e os
Encerados Locomotiva preferissem, pelo mesmo motivo da maior visibilidade, divulgar as suas jornadas esportiva, pela
Rádio Bandeirantes-SP, na revista
esportiva de Adolph Bloch – ele publicava, também, a magazine Manchete,
semanal, divulgando de tudo.
Craque na bola, Leônidas, por aqui, não era o principal |
Telê Santana comentava para este time |
AS PARCERIAS DA RR informam aos pesquisadores quais foram os primeiros futebolistas, de
dentro e de fora dos gramados, que passaram para a “latinha”. Como lemos acima,
a Mauá teve como comentarista Ademar Pimenta, o treinador da Seleção Brasileira
da Copa do Mundo-1938, na França, quando o atacante Leônidas da Silva foi
chamado de “Homem Borracha”, voltou com
o principal artilheiro, marcando 8 gols,
e virou o “Diamante Negro”. O mesmo Leônidas, que tornara-se comentarista esportivo
logo depois de encerrar a carreira, em 1950, e aparece nas parceria do
comendador como comentarista da Rádio Panamericana-Record-SP, falando por 620
kc na primeira, e em 1.000 kc, na segunda, para “A Academia Esportiva do Rádio”,
membro de uma turma, de 1966, que reunia mais Darcy Reys, Braga Junior, Joseval
Peixoto, Claudio Carsughi e Orlando Duarte.
Em seu recado, as emissoras
diziam oferecer ao torcedor brasileiro as “maiores emoções do futebol
bi-campeão (escrevia-se assim) do mundo”, onde quer que ele esteja. E
prosseguiam: “Pela Pan ou pela Record, o futebol é de primeira com a Academia
Esportiva do Rádio sob o comando de
Braga Júnior e Darcy Reis! Faça a prova...”, desafiava. Como era costume
prestigiar mais os chefes de equipes, Leônidas aparecia como terceiro destaque,
afinal Darcy e Braga eram mais craques que ele nesse lance.
Este anuncio foi colocado em uma revista... |
SEGURAMENTE, poucos sabem que Telê Santana, que foi atacante do Fluminense e treinador da Seleção Brasileira, em duas Copas do Mundo-1982/86, também já chegou na "latinha". Em 1966, permuta da Rádio Tupi com a RR mostrava a sua foto como integrante da "Equipe G-3, sob o comando de Doalcei Camargo com os mellhores locutores e comentaristas do rádio esportivo brasileiro", no caso, Benjamin Wright e Mário Vianna (ambos de arbitragens), Affonso Soares, Waldemar de Barros, Orlando Campos, Wilson |Lucas, José Resende e Roberto Alves. Com eles, garantia o anúncio permutado, "Rádio é tupi, som é Philips".
... em que o patrocinador teria maior visibilidade. |
SE TODA EMISSORA
se dizia a tal no esporte, era natural que a Rádio Guanabara, pelos seus 1.360
kc, fizesse o mesmo dentro de sua parceria com a RR. Teve estampado por um dos
seus anúncios de 1963, uma foto marcante do jogo em que o escrete canarinho virou
o placar e eliminou a Espanha da Copa do Mundo-1962, no Chile, eslogando:
Futebol é com a Guanabara”. E anunciava as suas “feras” – Doalcei Carmago (narrador
e estrela maior do bloco), José Dias (criador da primeira agência noticiosa
esportiva brasileira, a Sport Press”), João Saldanha (futuro treinador do selecionado
nacional, em 1969), Mário Vianna (ex-árbitro e participante da Copa do Mundo-1954,
na Suíça), Vitorino Vieira, Geraldo Serrano, Otávio Neme, Sérgio Paiva, Halmalo
Silva, Fernando Carlos, Arnaldo Moreira, Alfredo Raimundo, Luís Bayer, Rujany
Martins, Moisés Maciel e Paulo César Tenius, que iam ao ar por “gentileza dos
revendedores Firestone (pneus) e Cizano (bebida).
Como lemos, muitos anúncios veiculados nas
revistas esportivas eram o que hoje considera-se politicamente incorretos,
colocados onde são incompatíveis com o meio, o esportivo.
No tempo em que Dodô jogava no Andaraí, nossa vida era mais fácil de viver, assistência era passe pro gol, o ataque era a melhor defesa.. coisas como "jogar com o regulamento embaixo do braço", "falta inteligente", "bola parada" não tinham tanta importância. A gente jogava e deixava jogar. O futebol não era o que é hoje. Como dizia o Nelson Rodrigues: saúde de vaca premiada".
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