Colocar
nas bancas a primeira edição de uma revista esportiva requer muito estudo de
mercado. É este que vai permitir a sua longevidade ou brevidade. Ao longo da
história delas no Brasil foram poucas a
que dobraram décadas e muitas as que, rapidamente, tiraram o time de campo.
Com
a Manchete Esportiva, do empresário Adolpho Bloch, ocorreu algo inusitado: os
números 1 e 2, datados, respectivamente, de 26 de novembro e de 3 de dezembro
de 1955, circularam sem nenhuma publicidade em suas 40 páginas, que não deixaram
a edição barata, porque tiveram capas e contracapas coloridas, além de duas
páginas centrais e pôsteres. Havia, porém, explicação para essa esnobação. A
Bloch era uma grande empresa e, de início, o faturamento publicitário do seu
carro-chefe, a magazine semanal Manchete, poderia ajudar a tocar a irmã para a
frente.
Mas a Manchete Esportiva pareceu não se
preocupar muito com a publicidade que a sustentaria no mercado. O seu número
23, por exemplo, abriu com duas permutas – com as cariocas rádios Eldorado e
Jornal do Brasil – e apenas duas propagandas vendidas – Brilhantina Williams e
Gillette Azul. Esta, por sinal, mandava um recado inteligente. Razão do sucesso
de um sujeito jovem e bonito? “Está na cara”. Fazia a barba todo dia com a dita
cuja.
Com uma temporada na praça, a ME ainda andava
devagar com a sua publicidade. O número 40, de 3 de novembro de 1956, trouxe peça
de página inteira, vendendo luz e gás da Companhia de Carris, Luz e Força do
Rio de Janeiro. Fora isso, faturou apenas duas colunas, de cima a baixo, junto
à Casa Neno, divulgando as 10 lojas no Rio de Janeiro. O mais foram dois anúncios
das casa, uma permuta com a Rádio Mayrink Veiga e uma estampada da Atlantic,
complementando o anúncio da Manchete Esportiva no Ar, que era transmitido pela
TV Rio e a multinacional dos combustíveis patrocinava.
Inconcebível, para quem estava no mercado, mas
o Nº 80, dois anos após o lançamento, circulou sem nenhum anúncio, a não ser um
recado da casa. Ultrapassada a barreira dos 100 números publicados, a pouca
quantidade de anúncio continuava. A edição 114, de 25 de janeiro de 1958,
trouxe duas páginas inteiras de “reclames”,
pagos pelo Companha de Cigarros Souza Cruz, divulgado a marca Lincoln, e por Gillette,
que investia no modelo Monotech, “o mais perfeito aparelho de barbear”.
Sem se importar com a quantidade de anúncios
vendidos, a Manchete Esportiva terminou levando Adolpho Bloch encerrar a sua
circulação, após 184 edições. E a última teve apenas um recado, dos Agentes
Reunidos da Real (empresa aérea), de sorteio automóvel DKV-Vemag; viagens aos
Estados Unidos;. Geladeiras General Eletric e dinheiro para passageiros.
O normal seria que a ME tivesse bastante anúncios,
pois eras uma boa revista para a década-1950. Fazia cobertura perfeita do Campeonato
Carioca; trazia entrevistas com os craques da moda; fotos de jogos, de gols e
de times posados para o torcedor colocar no quadro ou na parede; noticiário internacional;
humor belas garotas fechando a quarta capa, ou nas páginas centrais. E um
grande chamativo: as belas crônicas se Nélson Rodrigues.
Até mesmo
quando fez uma belíssima cobertura da conquista da Copa do Mundo-1958, pela
Seleção Brasileira, na Suécia, os anúncios foram poucos – Gillette, já velha
parceira; Ron Montilla (bebida); Westclox (despertador); Chiclete Adams; Pulseiras
Champion; Poltrona Drago-Sleep e Lóide Aéreo foram alguns.
Após
184 edições, a ME lançou um novo tipo de revista. Em pequeno tamanho, a linha
editorial priorizou a principal a vida de um ídolo do esporte brasileiro, como
Pelé, Eder Jofre, Maria Esther Bueno, Didi, Orlando Peçanha, Gilmar e Julinho
Botelho. O diferencial do novo produto
era a novela em quadrinhos. Seguindo a numeração das revistas anteriores, que
tinham formato muito grande – um palmo e sete dedos de altura por um palmo e
dois dedos de largura –, as edições saíram, também, de primeira. Menos as
vendas de anúncios. O Nº 188, lançado na primeira quinzena de agosto de 1959, trazendo novelas com o campeão mundial do peso
galo, Eder Jofre, e o atacante Almir
Albuquerque, o “Pernambuquinho”, só vendeu anúncio para a Arno divulgar o seu barbeador elétrico, grande novidade da época.
Seria
natural que Adolpho Bloch não demorasse a tirar a nova experiência do mercado.
Até mesmo o Nº 191, na segunda quinzena de setembro de 1959, dedicado a Pelé,
com Dondinho, o pai dele, participando das novelinha, só teve duas peças
publicitárias – da Real Aerovias Nacional e do barbeador elétrico Arno. Fora
isso, uma permuta com a Rádio Bandeirantes de São Paulo e um recado da casa sobre
a revista romântica “Sétimo Céu”, que era marcante pelas sua fotonovelas que concorriam
com as de Capricho e Grande Hotel, principalmente.
A tenista Maria Esther, várias vezes campeã pelo
mundo a fora, também teve revista – Nº 187, na segunda quinzena de julho de
1959 – com apenas dois anúncios – Cigarros Lincoln, quando ainda não era politicamente
incorreto divulgá-los, e Panair, empresa aérea brasileira.
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